O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), sancionou uma nova lei que já está gerando debates acalorados entre especialistas em saúde, entidades de direitos das mulheres e a sociedade em geral. Publicada na última sexta-feira, 13 de junho de 2025, a legislação obriga unidades de saúde públicas e privadas da cidade a instalarem placas com mensagens contra o aborto, trazendo alertas e orientações específicas sobre o tema.
De acordo com o texto sancionado, a norma se aplica a hospitais, clínicas de planejamento familiar, instituições de saúde e quaisquer estabelecimentos que prestem atendimento médico ou ginecológico. As placas deverão conter frases com forte apelo emocional e informativo, como:
- “Aborto pode acarretar consequências como infertilidade, problemas psicológicos, infecções e até óbito”;
- “Você sabia que o nascituro é descartado como lixo hospitalar?”;
- “Você tem direito a doar o bebê de forma sigilosa. Há apoio e solidariedade disponíveis para você. Dê uma chance à vida!”
A lei também estabelece que as mensagens deverão estar em local visível ao público, com tamanho adequado para garantir a leitura clara por parte dos pacientes e acompanhantes. O não cumprimento da norma acarretará sanções graduais, começando com uma advertência formal e podendo evoluir para multa de R$ 1 mil em caso de reincidência.
A medida já está em vigor desde sua publicação no Diário Oficial do Município e, segundo a Prefeitura, visa garantir que a população tenha acesso a informações que possam influenciar decisões em um momento de vulnerabilidade.
Repercussão
A decisão provocou reações imediatas. Grupos pró-vida aplaudiram a medida, afirmando que ela representa um avanço na defesa dos direitos do nascituro e no apoio às gestantes em crise. Para esses movimentos, as mensagens são uma forma de oferecer alternativas ao aborto e de conscientizar sobre seus riscos.
Por outro lado, entidades ligadas aos direitos das mulheres e profissionais de saúde manifestaram preocupação. Para especialistas, o conteúdo das placas pode ser considerado moralista, estigmatizante e até desinformativo, especialmente em relação à legalidade e segurança do aborto nos casos previstos por lei no Brasil — como em situações de estupro, risco de vida para a gestante ou anencefalia fetal.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) e o Conselho Regional de Medicina já indicaram que pretendem analisar a constitucionalidade da medida. Críticos apontam que a lei pode violar princípios do SUS, como o atendimento integral e livre de julgamento, além de interferir na autonomia das pacientes.
O que diz a Prefeitura
Até o momento, a Prefeitura do Rio não se pronunciou oficialmente sobre eventuais ações judiciais ou contestações da lei. Em nota breve, o gabinete do prefeito afirmou que a sanção respeita “a vontade legislativa da Câmara Municipal” e que “as mensagens visam oferecer mais informações e apoio para quem passa por decisões difíceis”.
Enquanto isso, unidades de saúde já começam a se adaptar à nova exigência, sob pena de multa. A expectativa é que a polêmica em torno da lei continue nos tribunais e nas ruas — dividindo opiniões sobre o limite entre informação, ideologia e o direito de escolha da mulher.