Para garantir o início das obras de reconstruçăo do Museu Nacional do Rio de Janeiro, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) precisa de, ao menos, R$ 56 milhőes. Com um orçamento deficitário, os dirigentes da instituiçăo estăo em romaria em busca de dinheiro. Até o momento, conseguiram a sinalizaçăo de 21 deputados, a maioria fluminense, para a destinaçăo de R$ 250 mil em emendas individuais.
Em mais uma tentativa de comover parlamentares, Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro, participou ontem de audiência pública na Comissăo de Educaçăo da Câmara dos Deputados. Prestes a completar dois meses, pesquisadores ainda tentam dimensionar a tragédia de 2 de setembro, quando seis horas de fogo consumiram dois séculos de história.
Passado o abalo do incêndio, Kellner começa a admitir o despreparo para garantir a segurança e preservaçăo do local. Segundo ele, o museu tem receita de pouco mais de R$ 6 milhőes por ano. Mas, para atender as demandas, precisaria de R$ 13 milhőes. Somente o custeio de brigadistas custaria R$ 1,1 milhăo: o dobro do que a instituiçăo tem disponível.
“Faltava muita coisa no Museu Nacional. Tínhamos o básico, como extintor de incêndio. Faltava o projeto para controlar um eventual incêndio, havia essa dificuldade, porque o prédio é tombado. Tínhamos consciência da falta de dispositivos para combater um incêndio”, destacou.
Agora, o desafio é arrecadar fundos para iniciar as obras do prédio e de recuperaçăo do que sobrou do acervo, que teve 90% de seu total queimado. “Estamos elaborando um projeto para que defina o que será o novo museu. No fim de 2019, pretende-se contratar a empresa que fará a reconstruçăo. Precisamos ter um planejamento que possibilite manter e cuidar de um largo acervo. Museus científicos e, sobretudo, os vinculados estăo esquecidos no orçamento. Năo há recursos para investimentos e prevençăo”, explicou o reitor da UFRJ, Roberto Leher.
A ministra interina da Cultura, Cláudia Pedrozo, destacou, durante a audiência, que apesar de apoiar a reconstruçăo, năo faz parte da gestăo da pasta angariar recursos. “O processo de captaçăo năo acontece na gestăo do ministério ou com a gerência dele. Contudo, existe a previsăo de contrataçăo de um profissional especializado em captaçăo de recursos. Somos sócios do sucesso e parceiros de soluçőes para o museu”, adiantou.
Ajuda
Um dos parlamentares que se comprometeram em destinar emendas é Alessandro Molon (Rede-RJ). Ontem, ele fez um apelo para que mais deputados ajudem. “Essa é uma tragédia sem precedentes no Brasil. Foi uma perda de patrimônio incalculável. Devemos pensar as razőes que nos levaram aquilo. O que houve antes para que aquilo acontecesse. Esse debate foi negligenciado. Temos de reduzir os estragos e fazer o máximo para recuperar”, pediu.
Chico Alencar (PSol-RJ) adotou o mesmo discurso. Ele ainda criticou a invisibilidade orçamentária da cultura. “Vejo com alegria que a reconstruçăo já está em curso, que as atividades educacionais năo foram interrompidas. Mas temos de pensar o que levou a essa tragédia e năo cometer os mesmos erros”, destacou.
O Museu Nacional do Rio de Janeiro é o mais antigo do país e um dos mais importantes da América Latina. Com acervo de mais de 20 milhőes de itens, como coleçőes de geologia, paleontologia, botânica, zoologia e arqueologia. No local, estava a maior coleçăo de múmias egípcias das Américas, e o mais antigo fóssil humano encontrado no continente, o Luzia. No museu, havia ainda o esqueleto do Maxakalisaurus topai, maior dinossauro encontrado no Brasil.