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No dia em que Maria do Socorro se formou em arquitetura, ela realizou um sonho de infância. Tinha 40 anos, marido e três filhos. Quando foi, pela primeira vez, para a Disneylândia, aos 62 anos, se sentiu nas nuvens brincando pelos parques com o marido, Luis Felipe, e posando para fotos ao lado de personagens que povoam o mundo infantil. O casal experimentou, também, a delícia de ouvir o som do Maroon 5, ao vivo, no Rock in Rio, no ano passado, mas já nem consegue contar nos dedos das quatro măos o número de carnavais passados em Salvador, pulando na pipoca ou curtindo os trios elétricos, em qualquer ponto do circuito Barra/Ondina.
Ela é bancária aposentada. Ele, engenheiro aposentado, passou em concurso público da Telebras e voltou a trabalhar em 2014. Casados há 42 anos, Maria do Socorro da Rocha Freire e Luis Felipe Teixeira Freire, ambos de 64 anos, gostam muito de viver. E năo é só força de expressăo. O casal de Águas Claras trafega nos mais diferentes ambientes com curiosidade de criança, disposiçăo de adolescente e entusiasmo de jovem. O casal frequenta uma academia de ginástica juntos — Socorro pratica hidroginástica, Luis Felipe, musculaçăo — e ambos fazem aulas de dança de salăo, paixăo antiga da mulher que acabou contagiando o marido. Hoje, o homem meio tímido e mais reservado já se expőe com desenvoltura pelos salőes, sem medo de ser feliz.
A história do casal é pontuada por tantas atividades, que muitos amigos comentam que esse casamento de amor, afeto, cumplicidade e muitos agitos é exceçăo. Do curso de inglês juntos, passando pelas aulas de canto de Socorro, as viagens nacionais e internacionais, os eventos de trabalho, encontros com os amigos, cuidados com os netos e brincadeiras de família, tudo é motivo para levantar o ânimo e reativar a disposiçăo de Socorro e Luis Felipe em se divertirem. “Hoje, cheguei ao meu futuro e faço tudo o que é melhor para mim. A hora é agora”, resume a mulher de olhar faceiro e sorriso largo, que diz só se lembrar da idade quando é perguntada.
Na casa de Dalva Ferreira dos Santos, em Ceilândia, a família já conta com a força de uma guerreira, como costumam brincar os filhos e netos. E năo é por menos. A matriarca de 75 anos, que já foi faxineira, costura, borda e faz crochê, ensina tapeçaria, estuda informática, faz dança sênior, anda na esteira, arruma a casa, cozinha para a família e, ufa!, lava e passa as roupas. “Nada me atrapalha, graças a Deus. Na minha vida năo tem tristeza. Os problemas ficam para trás e eu vou embora, porque tenho muita coisa ainda para fazer”, diz a aposentada.
Envelhecimento ativo
O casal e dona Dalva representam a mais perfeita traduçăo do envelhecimento ativo, um conceito adotado pela Organizaçăo Mundial da Saúde (OMS), que expressa a necessidade de que a velhice seja uma experiência positiva, uma vida mais longa com oportunidades contínuas de saúde, qualidade de vida, participaçăo e segurança. O conceito é lembrado hoje, 1º de outubro, para celebrar o Dia Internacional do Idoso. A data marca, também, os 15 anos do Estatuto do Idoso, que normatiza os direitos assegurados às pessoas com idade a partir de 60 anos.
O envelhecimento ativo potencializa as chances de participaçăo do idoso nas questőes sociais, políticas e econômicas ou em família, de acordo com a professora de geriatria da faculdade de medicina da Universidade Federal de Goiás Elisa Franco de Assis Costa, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. “É a otimizaçăo do potencial do idoso na sociedade, mas é uma açăo multifuncional, năo é isolada”, explica.
O conceito admite que as medidas preventivas para o envelhecimento ativo começam na infância, com uma boa alimentaçăo, passam pelo fator escolaridade, já que a educaçăo ajuda a proteger contra a demência, e se estende a cuidados contínuos, como a necessidade de uma atividade física, dieta saudável e combate a vícios. O tratamento de doenças crônicas ajuda a evitar as complicaçőes na velhice. A correçăo de deficiências visuais ou auditivas năo săo apenas uma questăo estética. Além disso, é preciso, também, bom senso no uso de medicamentos. “É preciso diminuir o preconceito da sociedade contra o idoso. A velhice é um momento da vida que năo pode ser apresentado somente como ruim. Tudo tem os dois lados”, explica Elisa.
Crimes e abusos
Mesmo se avançando para uma situaçăo de mais qualidade de vida, ainda persistem situaçőes de abuso contra os idosos. A Delegacia Especial de Repressăo aos Crimes por Discriminaçăo Racial, Religiosa ou por Orientaçăo Sexual ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência(Decrin) registrou 88 casos de violência relacionados ao idoso, de janeiro a agosto de 2018. No ano passado, foram contabilizadas 203 ocorrências de violência contra essa parcela da populaçăo.
Os crimes mais comuns registrados pela Decrin săo maus-tratos e apropriaçăo indébita. De acordo com a delegada-adjunta Érica Macedo Castanho Portela Luna, a maioria dos crimes é praticada por pessoas próximas ao idoso, como parentes, amigos ou cuidadores. “É importante que as pessoas observem como o idoso está sendo tratado, se sofre violências ou tem machucados, se faz empréstimos bancários ou se está gastando muito dinheiro. Ao notarem alguma coisa diferente, as pessoas devem denunciar, para que sejam averiguadas as suspeitas”, informa a delegada.
Para saber mais
O Dia Internacional das Pessoas Idosas foi instituído pela Organizaçăo das Naçőes Unidas (ONU) em 1991. A data foi estabelecida em 1º de outubro com o objetivo de incentivar a conscientizaçăo da sociedade sobre as necessidades e a preservaçăo do respeito e dignidade das pessoas idosas, além de homenagear essa parcela da populaçăo mundial.
Criado em 1º de outubro de 2003, o Estatuto do Idoso trata de questőes como atendimento prioritário, moradia, saúde, proteçăo contra tratamento discriminatório ou violento, assuntos trabalhistas e previdenciários.
A expectativa de vida do brasileiro saiu de 45 para 75 anos. Em 2050, o Brasil deverá ter um idoso a cada três pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Direitos do Idoso
» Direito ao respeito: inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral;
» Direito à moradia digna; com sua família ou em instituiçăo pública ou privada;
» Direito à gratuidade de medicamentos, próteses e quaisquer recursos relativos a tratamento, habilitaçăo ou reabilitaçăo, em esferas públicas;
» Prioridade de aquisiçăo de imóvel em programas habitacionais com dinheiro público.
» 1 salário mínimo por mês, conforme a Lei Orgânica da Assistência Social, para os maiores de 65 anos que năo têm como se sustentar
» Atendimento domiciliar pelos conveniados ao SUS para enfermos
» A idade mais elevada é critério de desempate em concursos públicos
Fonte: Estatuto do Idoso
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Fonte: Cidades