Cerca de um quarto dos jovens está procurando o amor por meio de sites e aplicativos de namoro. Essa forma relativamente nova de flertar pode lhe dar acesso a um grande grupo de parceiros em potencial. Mas também apresenta um conjunto único de desafios.
Por exemplo, você provavelmente ouviu falar de — ou experimentou na própria pele — um encontro que foi planejado online mas não deu certo por uma das seguintes razões: ele era mais baixo do que seu perfil dizia, ela tinha pessoalmente uma aparência diferente do que a das fotos, ou ele era falante quando estava escrevendo mas foi um tédio no jantar.
Em outras palavras, o perfil de uma pessoa — e as mensagens enviadas antes do encontro — podem não capturar o que a pessoa realmente é.
Em um artigo recente, meu colega Jeff Hancock e eu questionamos: com que frequência as pessoas que usam apps de paquera mentem? Que tipo de coisas elas são propensas a mentir?
‘Meu celular ficou sem bateria’
Nossos estudos são alguns dos pioneiros em apontar essas questões, mas outros avaliaram também a decepção no namoro online.
Pesquisas anteriores foram focadas especialmente nos perfis. Os estudos descobriram, por exemplo, que os homens tendem a exagerar a sua altura e a mentir sobre a sua ocupação, enquanto as mulheres minimizam o seu peso e tendem a ter fotos menos fiéis do que seus correspondentes.
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Mas perfis são só um aspecto do processo de namoro online. Só depois de trocar mensagens com seu match é que você decide se quer encontrar ele ou ela.
Para entender com que frequência as pessoas mentem a seus parceiros e o que elas falsificam, nós avaliamos centenas de mensagens de texto trocadas depois que os pretendentes deslizaram o dedo para a direita, mas antes de se encontrarem — um período que nós chamamos de “fase de descoberta”. Nós recrutamos online uma amostra de mais de 200 participantes que nos proveram com as suas mensagens de conversas recentes e identificamos as mentiras, com alguns participantes explicando por que essas mensagens eram enganosas e não brincadeiras.
Nós descobrimos que as mentiras poderiam ser categorizadas em dois tipos principais. O primeiro tipo foram as mentiras relacionadas à apresentação pessoal. Se os participantes queriam se apresentar como mais atraentes, por exemplo, eles mentiam sobre a frequência com que iam à academia. Ou se o match aparentava ser religioso, eles mentiam sobre a frequência com que liam a Bíblia para parecer que eles tinham interesses semelhantes.
O segundo tipo de mentiras foram as relacionadas ao gerenciamento de disponibilidade, com os pretendentes descrevendo por que não poderiam se encontrar, ou dando desculpas para o silêncio, como mentir que o telefone estava fora de serviço.
Essas decepções são chamadas de “mentiras de mordomo” porque elas são relativamente educadas para evitar comunicação sem fechar completamente as portas. Se você já enviou “Desculpe, eu estava fazendo serviço militar, meu telefone ficou desligado”, quando você simplesmente não queria conversar, você contou uma mentira de mordomo.
Mentiras de mordomo não fazem de você uma pessoa ruim. Pelo contrário, elas podem ajudá-lo a evitar armadilhas de namoro, como aparecer sempre disponível ou desesperado.
Mentiras intencionais ou generalizadas?
Embora as decepções pela apresentação pessoal e a disponibilidade tenham gerado a maior parte das mentiras, nós observamos que só 7% de todas as mensagens foram classificadas como falsas na nossa amostra.
Por que uma taxa de decepção tão baixa?
Uma descoberta robusta em todos os estudos recentes sugere que a maioria das pessoas é honesta e que existem apenas alguns mentirosos prolíficos em nosso meio.
Mentir para parecer um bom par ou mentir sobre o seu paradeiro pode ser um comportamento completamente racional. Na verdade, a maioria das pessoas on-line espera por isso. Também há um benefício em mentir um pouco: isso pode nos destacar no namoro, enquanto nos faz sentir que permanecemos fiéis a quem somos.
No entanto, mentiras definitivas e generalizadas — mencionando seu amor por cães, mas na verdade sendo alérgico a eles — podem minar a confiança. Um grande número de mentiras pode ser problemático para encontrar “a metade da laranja”. Houve outro resultado interessante que fala sobre a natureza do engano durante a fase de descoberta. Em nossos estudos, o número de mentiras contadas por um participante foi positivamente associado ao número de mentiras que eles acreditavam que o parceiro contava.
Então, se você é honesto e mente pouco, acha que os outros também são honestos. Se você está procurando por amor, mas está mentindo para conseguir, há uma boa chance de perceber que os outros estão mentindo para você também.
Portanto, contar pequenas mentiras por amor é normal, e fazemos isso porque serve a um propósito — não apenas porque podemos.
* David Markowitz é professor assistente de análise de dados de mídias sociais da Universidade do Oregon (EUA) e escreveu originalmente em inglês para The Conversation.