O Tribunal de Justiça do Rio determinou que o ex-PM Jorge Luiz Aguiar da Silva, de 39 anos, vá a júri popular pelo homicídio triplamente qualificado de Hayssa Alves de Souza Andrade, de 21 anos, assassinada a tiros em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, em dezembro de 2017. O crime ocorreu durante uma festa e teria sido motivado por uma discussão envolvendo a música escolhida para tocar na confraternização. À época, Jorge Luiz era cabo da Polícia Militar, lotado no Centro de Controle Operacional (Cecopom), mas acabou expulso da corporação em agosto do ano passado em virtude desse caso.
Ao transformar o ex-PM em réu, em março deste ano, o juiz Tiago Fernandes de Barros, da 2ª Vara Criminal, frisou que “o denunciado, com vontade livre e consciente de matar, desferiu disparos de arma de fogo contra a vítima Hayssa”. No entender da Justiça, o homicídio teve motivação fútil, emprego de meio que pode resultar em perigo a terceiros e impediu qualquer chance de defesa.

De acordo com o processo, uma amiga, Hayssa e uma prima da jovem chegaram juntas a um churrasco no terraço de uma lanchonete, por volta das 20h. Em seguida, Hayssa e a amiga plugaram o celular em uma caixa da som, mas Jorge Luiz se aproximou e exigiu que a música parasse, pois o repertório escolhido faria “apologia ao crime”. As duas atenderam ao pedido e retornaram à mesa.
Pouco depois, porém, logo após conversar com dois homens, o ex-cabo foi até o trio e, “transtornado, começou a xingar a vítima”, como testemunhou uma das jovens. Perguntado sobre o motivo dos xingamentos, ainda segundo o processo, o ex-PM “mostrou que estava armado” e atirou diversas vezes em Haíssa, que permanecia sentada. “Não esperava que ele fosse disparar”, declarou uma das testemunhas.

Jorge Luiz, por sua vez, alegou não se lembrar de ter aberto fogo contra a vítima. Ele contou que chegou ao local às 14h, consumindo bebidas alcoólicas desde então, e confirmou que havia ido armado ao evento.
O laudo cadavérico apontou que o corpo de Hayssa apresentava 36 perfurações por arma de fogo, sendo 22 ferimentos de entrada e outros 14 de saída. Várias das marcas de tiro encontravam-se nos dois braços, caracterizando uma tentativa de se defender dos disparos. Além disso, parte das balas transpassou a vítima — um mesmo projétil, portanto, pode ter causado duas ou mais perfurações.

Jorge Luiz foi preso em flagrante por agentes do 40º BPM (Campo Grande) logo após o crime, momento em que os PMs apreenderam uma pistola Taurus calibre 380 que ele tentava jogar sobre um muro, junto com a documentação referente à propriedade da mesma. A Taurus do ex-policial tem capacidade para armazenar até 19 projéteis, além de um na câmara da arma, o que indica a possibilidade de terem sido feito até 20 disparos, uma vez que testemunhas relatam que o acusado “descarregou toda a pistola” durante o ataque.
Até ser expulso da corporação, Jorge Luiz estava acautelado na unidade prisional da PM, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio. Após a exclusão, ele acabou transferido para uma prisão comum. A Secretaria estadual de Administração Penitenciária (Seap), contudo, não informou em que unidade o ex-PM encontra-se detido.
