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Funcionários do Hospital Pedro II, em Santa Cruz, estão em aviso prévio; nova gestão assume no dia 12
O Hospital municipal Pedro II, em Santa Cruz, referência em trauma na Zona Oeste, vai mudar sua administração. Com todos os 1.201 funcionários – número que constava na folha de pagamento de abril – em aviso prévio, o clima é de incerteza nos dez andares da unidade, que recebeu nesta segunda-feira uma comissão da Rio Saúde para uma vistoria. A empresa pública ligada à prefeitura assume o hospital a partir do próximo dia 12, no lugar da organização social SPDM, e terá o desafio de reabrir 14 leitos de CTI bloqueados por falta de profissionais de saúde e desafogar a emergência superlotada.
— Estamos trabalhando sem saber como ficaremos a partir do dia 11. Ninguém tem garantia de nada, nem mesmo do pagamento de maio, rescisão — disse uma técnica de enfermagem que prefere não ser identificada.
Sem o vale transporte deste mês, outra profissional de enfermagem também teme ser demitida e não receber o pagamento:
— Uma colega foi hoje à direção e perguntou sobre passagem, vale alimentação. pagamento, rescisão. Ninguém sabe informar nada. Estou agoniada com essa situação.
No último boletim informativo disponibilizado no site da OS SPDM, em 30 de abril, constavam valores pendentes para reserva financeira no montante de R$ 14.505.280,58 das competências de outubro de 2016 a março de 2019. A reserva financeira é usada, entre outras coisas, para quitar rescisões.
A SPDM informa ainda que, em abril, a prefeitura depositou R$ 9.084.943,44 para a OS administrar o Pedro II. O novo contrato de gestão com a Rio Saúde para o hospital será de cerca de R$ 17 milhões mensais, um aumento de quase R$ 6 milhões por mês em relação ao contratado com a OS atual. A Secretaria municipal de Saúde (SMS) afirma que esse acréscimo prevê a reabertura dos leitos de UTI e do centro de tratamento de queimados, além da recuperação de alguns serviços médicos de suporte cirúrgico.
Sobre os funcionários da SPDM que cumprem aviso prévio, a secretaria informou que eles poderão ser aproveitados pela Rio Saúde em contratos temporários. Quanto às indenizações trabalhistas, a secretaria respondeu que “cabe à OS SPDM o pagamento dos funcionários”.
A secretaria afirmou que a saída de uma equipe de profissionais de saúde e a chegada de outra, no próximo dia 12, não prejudicará o atendimento à população.
Vistoria encontrou situação de calamidade
Uma vistoria realizada pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro no Hospital Pedro II, em abril, identificou que a unidade apresenta quadro de superlotação: a sala amarela tinha ocupação de 390% (com 21 leitos, o local contava com 82 pacientes) e de 418% na sala vermelha (com 11 leitos, o espaço tinha 46 pessoas).
De acordo com a defensoria, há déficit de pelo menos 25 médicos, 33 enfermeiros e 100 técnicos de enfermagem na unidade da Zona Oeste. Faltam até macas, o que acarreta a “internação indevida de pacientes em macas de transporte, poltronas de acompanhante e cadeiras de transporte”, o que, de acordo com a Defensoria Pública, coloca “em risco a integridade física e a própria vida dos pacientes”. A unidade também precisa de equipamentos, como monitores de sinais vitais e ventiladores mecânicos, e materiais médico-hospitalares por causa da superlotação. Até enxoval hospitalar, poltronas e colchões estão em falta na unidade, diz a DPRJ.
— Já visitamos outras unidades, mas situação como a do Pedro II não foi identificada este ano. O que se observou na última vistoria foi uma superlotação nunca antes vista pela Defensoria Pública. (Durante a vistoria) encontramos um paciente diabético que não era visto há quatro dias por um médico, e o quadro dele piorou. O paciente se agrava sob a guarda e o dever de proteção do município no local que deveria resguardar a saúde. Isso é grave, compromete a qualidade da assistência e do trabalho dos profissionais que estão atuando em uma situação indigna — afirmou a defensora pública do estado Thaísa Guerreiro, na época.