No fim de julho, o autônomo Celso Dias, de 30 anos, chegou com exames em mãos à Clínica da Família Jamil Haddad, em Paciência, na Zona Oeste do Rio. Mas não pôde ser atendido. Alegaram falta de médicos. Nesta segunda-feira, três meses depois, Celso recebeu o diagnóstico médico que trazia a má notícia: ele está diabético. Mas novamente deixou a unidade sem se consultar. Desde a última quinta-feira, médicos que atuam na atenção básica estão em greve, por atrasos nos salários.
O doutor disse que não ia me atender porque eles estão sem receber há três meses — disse Celso Dias. — É horrível. A gente fica sem orientação, não sabe se tratar, que remédio comprar, enfim, ficamos abandonados.
Segundo moradores de Santa Cruz e Paciência que procuravam atendimento, nesta segunda-feira, em clínicas da família da região, apenas casos de emergência e pré-natal estão sendo realizados. Os demais serviços foram cancelados. Segundo a vendedora Aparecida Monteiro, de 55 anos, há uma escassez generalizada na Clínica da Família Jamil Haddad:
— Está faltando remédio, médico, aparelho e até papel.
Levantamento feito pelo Conselho de Saúde de Santa Cruz, Sepetiba e Paciência revela que, com apenas 37% do salário depositado este mês, profissionais de saúde têm deixado de aparecer nos plantões: entre os dias 6 e 24 deste mês, foram registradas 213 faltas nas clínicas da família.
Segundo o presidente do conselho, Geraldo Batista de Oliveira, a organização social SPDM, que administra as unidades da região de Santa Cruz, vem pagando os vencimentos em parcelas.
A precariedade na rede da atenção básica já afeta também o serviço de raios X das unidades.
— Com o atraso nos repasses da prefeitura, a OS também deixou de pagar fornecedores. A empresa que realiza raios X está sem receber os meses de julho e agosto. Com isso, paralisou o serviço em cerca de 80% das clínicas da família — afirma Geraldo.
O mesmo estaria acontecendo com a empresa que contrata profissionais para as portarias das unidades. De acordo com o Conselho de Saúde, são três meses de pagamento em atraso.
— Já a firma que faz limpeza chegou a interromper o serviço este mês. Mas entraram em acordo com a OS e voltaram, no entanto, estão racionando material de limpeza — diz Geraldo.
Na Clínica da Família Sérgio Arouca, em Santa Cruz, as crianças chegaram a ficar sem vacinas porque o ar-condicionado quebrou, na semana passada, e a sala de imunização teve que ser desativada.
A Secretaria municipal de Saúde (SMS) informou que as equipes de limpeza trabalham normalmente e o serviço de raios X foi “otimizado” nas unidades. Afirmou ainda que a sala de imunização da Clínica da Família Sérgio Arouca já foi normalizada. A secretaria informou que a Prefeitura do Rio liberou crédito suplementar para a Saúde. Dessa forma, R$ 36, 4 milhões serão repassados às OSs, nos próximos dias, para regularizar os salários em atraso nas unidades, conforme valor informado pelos representantes das organizações sociais. Quanto à greve, a SMS afirmou que os profissionais se encontram nas unidades, atendendo somente os casos prioritários, como bebês, pré-natal, doentes crônicos e pessoas que estejam passando mal.