“Destruíram uma família. Mataram uma mulher que ajudava todo mundo. Como alguém faz uma monstruosidade dessas?”. Eram essas as palavras que se ouviam na manhã deste sábado no Cemitério de Ricardo de Albuquerque enquanto os corpos de Miriam Batista de Moura Graça, Raphael Samuel de Moura Coelho e Kaio Vinícius Moura Coelho — mortos na noite da última quinta-feira, na Estrada do Catonho, em Jardim Sulacap, na Zona Oeste — eram velados lado a lado.
O cemitério ficou pequeno para as mais de 300 pessoas, entre amigos e parentes, que foram ao local se despedir das três vítimas. Muitas delas estavam vestidas com camisas que estava a foto das três vítimas. Antes do sepultamento, um ato ecumênico foi feito no local.
Thamires Batista Moura da Silva, 27, mãe de Raphael e Kaio e filha de dona Miriam, não conseguiu acompanhar a despedida dos familiares. Ela passou mal e foi aparada pelo ex-marido Cristiano Coelho, 30, pai das crianças.
“Faltam palavras para descrever o que sinto. Que isso não aconteça com outra família. Quero que ele se entregue e peça muito perdão a Deus pelo que fez, por ter levado dois anjinhos. A minha mãe viveu tudo que ela tinha que viver, mas os meus filhos não. Peço que ele venha me pedir perdão pela ferida que me fez. Essa ferida será eterna e ninguém vai tirar essa dor de mim. Eu nunca irei perdoa-lo”, disse a mãe das crianças.
Antes de fecharam o caixão, Thamires fez uma homenagem para os filhos e a mãe. Ela pediu que as músicas “Pé na Areia”, do Diogo Nogueira; e “Espera eu Chegar”, de MC Kevim, fossem cantadas. “Eu peço que todos cantem. Eram as canções que minha mãe, o Kaio e o Raphael gostavam”, pediu Thamires. Cartazes com os dizeres “Cadê o motorista?” e “Cadê a Justiça?” foram colados ao lado dos caixões.
A avó paterna das crianças, a dona de casa Cristina de Souza Correa, lembrou que os meninos iriam passar o final de semana em sua casa, em Olinda, Nilópolis. “Não deu tempo do meu filho ir buscá-los. A mãe tinha dito que meus netos passariam o fim de semana lá em casa”, lembra a mulher. “Eu fiquei sabendo disso a meia-noite pois ninguém queria me contar. Eu estive internada na semana passada, por conta da pressão, e por isso eles queriam me poupar. Os meus netos não saiam lá de casa”, completa. “No mês de maio a minha casa pegou fogo e eu perdi tudo. Agora, mais essa tragédia”, lembra a dona Cristina.
Ajudava todo mundo
Parentes, amigos e vizinhos lembraram de dona Miriam como “amiga de todo mundo” e a pessoa que “ajudava quem estava doente”, já que ela era funcionária da Clínica da Família, na Praça Seca. “Trabalhamos juntas por anos. A Miriam era a pessoa mais alegre da turma. Nunca, em mais de 20 anos, a vi triste”, lembra a amiga Marilda Freire, 60. Já Sandra da Conceição Lopes, 61, conta que quem precisava de algum atendimento médico recorria a Miriam. “Sempre ajudava quem precisava medir a pressão, tirava febre”.
Abaixo-assinado para sinalização na região
Durante o enterro, moradores do bairro recolheram assinaturas para cobrar da Prefeitura mais segurança para o local. Um dos responsáveis pelo abaixo-assinado era o garçom Moisés Pinho da Cunha, 37. “Não é a primeira vez que acidentes acontecem naquele local. Cobramos há varias gestões para que algo fosse feito. Pedimos que coloquem uma passarela, quebra-molas e mais sinalizações. Isso tem que ser urgente. Esse problema não é de agora. Infelizmente, as autoridades só fazem algo quando aconteceu uma fatalidade como essa”.
Via; O Dia