Um caso de violência doméstica choca a Baixada Fluminense neste sábado (21). Mayara da Silva, 29 anos, foi esfaqueada no olho pelo companheiro, identificado como Ângelo, durante uma discussão na residência do casal, no bairro Heliópolis. Segundo testemunhas, ele estava embriagado e, tomado por ciúmes, pegou uma faca de cozinha e golpeou a vítima, que pode perder a visão.
A violência foi presenciada pela filha mais nova, de apenas cinco anos, cena que aprofunda o trauma familiar. Vizinhos acionaram de imediato a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros. Quando os agentes chegaram, encontraram Mayara caída, o rosto coberto de sangue. A criança chorava sem entender o que se passava.
Mayara foi levada em estado grave ao Hospital Municipal de Belford Roxo e passou por cirurgia de urgência para conter a hemorragia e avaliar o dano ocular. Até o fechamento desta reportagem, médicos não confirmavam se a visão será preservada. A vítima também apresenta cortes nos braços, sinal de que tentou se defender.
Ângelo foi preso em flagrante ainda na cena do crime e conduzido à 54ª DP. Autuado por lesão corporal gravíssima, ele pode responder por tentativa de feminicídio se o quadro da companheira piorar. A delegada Daniela Figueiredo solicitará medidas protetivas para Mayara e os filhos, além de laudo pericial que comprove a intenção de matar.
Moradores relatam que as discussões eram frequentes, mas nunca imaginaram tamanha brutalidade. “Ouvíamos brigas, porém nada assim”, contou uma vizinha. O episódio reforça o alerta sobre a escalada da violência contra mulheres na região: só em 2025, a Baixada Fluminense já soma 37 tentativas de feminicídio, de acordo com a Secretaria de Segurança.
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelam que, em 2024, o país registrou 2.300 tentativas de feminicídio — seis por dia. Para a ONG Mulheres em Rede, o caso de Mayara “não é exceção, mas retrato de uma cultura que normaliza o controle do corpo feminino”, afirma a coordenadora Ana Ribeiro, pedindo patrulhas especializadas permanentes.
A psicóloga Camila Torres, do Centro de Atenção à Mulher, lembra que sinais de controle e ameaça antecedem agressões físicas. “Ciúme doentio, isolamento familiar e humilhações são avisos vermelhos. Denunciar precocemente pode salvar vidas”, destaca. Ela indica a Central de Atendimento à Mulher (180) e o Disque‑Denúncia (181) como canais anônimos e gratuitos.
Enquanto Mayara luta para recuperar a visão e a segurança, a comunidade organiza correntes de oração e apoio. O sangue derramado em Heliópolis expõe o perigo que mulheres enfrentam dentro de casa e a urgência de políticas públicas para romper esse ciclo de terror.