A Polícia Civil do Rio de Janeiro concluiu as investigações sobre o bárbaro assassinato de Matheus Andrade de Freitas, de 25 anos, morador do Morro do Fubá, em Cascadura. Seis traficantes ligados à facção criminosa que domina o Morro da Serrinha, em Madureira, foram indiciados pelo crime que chocou a comunidade e gerou revolta nas redes sociais devido à divulgação de vídeos macabros do esquartejamento.
O caso ocorreu no dia 26 de outubro, quando traficantes da Serrinha invadiram o Morro do Fubá, liderando um ataque que resultou no sequestro e na execução brutal de Matheus. Segundo a Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), o motivo do crime foi a ligação do jovem com o território inimigo do Terceiro Comando Puro (TCP).
O motivo do crime
Matheus foi criado no Morro do Fubá, uma comunidade tradicionalmente dominada pelo TCP. De acordo com a delegada titular da DDPA, Elen Souto, muitos amigos do jovem acabaram integrando o tráfico de drogas local, mas Matheus seguiu um caminho diferente. Ele havia se distanciado do universo do crime, dedicando-se ao trabalho em uma pizzaria, da qual se tornou sócio há cerca de um mês, na entrada da comunidade Jorge Turco.
Essa pizzaria, no entanto, estava localizada em um território dominado pelo Comando Vermelho (CV), facção rival do TCP e do grupo que domina a Serrinha. Essa conexão, embora indireta, foi usada como justificativa pelos criminosos para condenar Matheus à morte.
“Matheus foi criado no Morro do Fubá e tinha amigos envolvidos no tráfico, mas não tinha passagens pela polícia. O que o condenou foi o fato de ter sua pizzaria em uma área controlada pelo CV, que é visto como inimigo mortal pelo TCP e por seus aliados”, explicou a delegada.
A brutalidade do crime
Depois de capturarem Matheus durante a invasão ao Morro do Fubá, os traficantes da Serrinha o levaram para o interior de sua comunidade. Lá, ele foi esquartejado enquanto estava vivo. Os criminosos gravaram a cena em vídeos perturbadores, que foram compartilhados nas redes sociais, gerando indignação e repercussão.
Os vídeos mostram a crueldade dos traficantes, que não apenas tiraram a vida do jovem, mas também buscaram enviar uma mensagem de terror às comunidades rivais. A divulgação dessas imagens provocou uma onda de críticas e temor entre os moradores da região.
O ato chamou a atenção de William Yvens da Silva, conhecido como “Coelhão”, um dos chefes do tráfico no Morro da Serrinha, que, segundo a polícia, ficou irritado com a repercussão negativa das imagens. Coelhão é apontado como um dos líderes do grupo que ordenou a execução.
A resposta da Polícia Civil
A investigação da DDPA identificou os seis traficantes envolvidos diretamente no crime, incluindo Coelhão. Eles foram indiciados pelos crimes de homicídio qualificado, tortura, vilipêndio de cadáver e associação criminosa.
“Trata-se de um crime bárbaro, com requintes de crueldade, que reflete a disputa violenta entre facções pelo controle de territórios. Nosso objetivo é que todos os envolvidos sejam responsabilizados e presos para evitar que atrocidades como essa se repitam”, afirmou Elen Souto.
A delegada também ressaltou a importância de denúncias anônimas para combater o domínio do tráfico nas comunidades. “A colaboração da população é essencial para interromper o ciclo de violência e desumanidade que essas facções impõem”, disse.
Repercussão na comunidade
O caso de Matheus trouxe à tona o clima de medo e insegurança que há anos marca a rotina das comunidades cariocas. Moradores do Morro do Fubá e da Serrinha relataram que a disputa entre facções tem se intensificado, com invasões e ataques cada vez mais frequentes.
“Não dá para viver assim. A gente tem medo até de sair para trabalhar. Matheus era um menino trabalhador, um exemplo para muitos aqui. É revoltante que sua vida tenha sido tirada dessa maneira”, disse um morador do Fubá, que pediu para não ser identificado.
Além disso, a divulgação dos vídeos nas redes sociais gerou uma onda de comoção e revolta, com muitas pessoas cobrando ações mais efetivas do poder público para conter a violência e proteger os moradores das comunidades.
Justiça e esperança
O caso de Matheus Andrade de Freitas é mais um exemplo da brutalidade que a guerra do tráfico impõe às comunidades do Rio de Janeiro. A esperança agora é que a responsabilização dos envolvidos represente um passo em direção à justiça para a família do jovem e para todos os que vivem sob o domínio do medo.
Enquanto isso, a Polícia Civil segue monitorando a atuação das facções e busca desarticular os grupos responsáveis por crimes tão cruéis. A delegada Elen Souto fez um apelo à sociedade para não compactuar com a circulação de vídeos violentos: “Divulgar imagens desse tipo só reforça o impacto do terror que os traficantes querem causar. Precisamos lutar contra isso com união e denúncias”.
O crime que tirou a vida de Matheus é um alerta para a gravidade da crise de segurança pública no Rio de Janeiro. Mais do que nunca, é necessário um esforço conjunto entre governo, polícia e sociedade para transformar a realidade das comunidades e garantir que histórias como essa não se repitam.