Em uma decisão controversa que reacendeu o debate sobre a responsabilidade dos proprietários de animais perigosos, a Justiça do Rio de Janeiro concedeu liberdade aos donos dos três pitbulls responsáveis pelo ataque brutal à escritora Roseana Murray, 73 anos. O incidente ocorrido na última sexta-feira em Saquarema deixou a comunidade local e os admiradores da autora em choque.
Roseana Murray, renomada por sua contribuição à literatura infantil brasileira, foi atacada violentamente quando caminhava próximo à sua residência. Os cães, que escaparam de uma propriedade vizinha, a atacaram ferozmente, resultando em ferimentos gravíssimos: a escritora perdeu um dos braços e uma das orelhas, e segue internada no Hospital Estadual Alberto Torres, lutando pela vida.

A decisão judicial de soltar os proprietários dos cães antes mesmo da conclusão do inquérito policial causou indignação. A sociedade questiona a eficácia das leis de proteção e a responsabilidade civil e criminal de donos de animais potencialmente perigosos. Este caso põe em evidência as lacunas existentes na legislação atual que, muitas vezes, não oferece um respaldo eficaz para prevenção desses ataques e punição adequada aos culpados.
Os donos dos pitbulls, que não tiveram os nomes divulgados, foram liberados após prestarem depoimento. Segundo eles, o incidente foi uma fatalidade e os cães nunca haviam demonstrado comportamento agressivo anteriormente. Esta alegação, contudo, é contestada por testemunhas que afirmam o contrário. Relatos indicam que os animais eram frequentemente vistos soltos e apresentando comportamento agressivo.
Especialistas em comportamento animal consultados questionam a supervisão e o manejo dos cães pelos seus proprietários. “Cães, especialmente de raças com potencial para agressividade elevada, necessitam de treinamento específico e manejo cuidadoso para evitar que tragédias assim aconteçam”, explica o veterinário Dr. Luís Antônio.
A liberação dos donos dos cães levanta um questionamento jurídico importante: até que ponto os proprietários podem ser considerados culpados por atos de violência cometidos por seus animais? E mais, como a justiça pode agir preventivamente para proteger a sociedade de incidentes similares?
O caso também ressalta a necessidade urgente de revisão das normas que regulamentam a posse de animais considerados de risco. Ativistas pelos direitos dos animais e por maior segurança pública clamam por mudanças legislativas que incluam medidas como registro obrigatório, seguro e treinamento específico para os donos e seus animais.
Enquanto isso, a comunidade literária e admiradores de Roseana Murray se mobilizam em apoio à escritora através de campanhas de arrecadação de fundos para ajudar no tratamento e recuperação. A brutalidade do ataque trouxe à tona discussões sobre a vulnerabilidade dos idosos em espaços públicos, especialmente aqueles que residem em comunidades menos urbanizadas.
O futuro de Roseana ainda é incerto, e os próximos dias serão cruciais para sua recuperação. A decisão da Justiça do Rio, enquanto legal, continua a ser um ponto de inflamação em debates acalorados sobre justiça, responsabilidade e segurança pública. A sociedade espera ansiosamente por respostas e por uma ação efetiva que garanta a não repetição de tais atos de violência, protegendo assim todos os cidadãos, independentemente da idade ou profissão. A pergunta que fica é: até quando seremos reféns do medo em nossas próprias comunidades?



