Nesta terça-feira, 28 de janeiro, o samba carioca perdeu um de seus maiores ícones. Fábio de Mello, o coreógrafo que revolucionou a comissão de frente das escolas de samba, faleceu aos 61 anos, deixando um vazio irreparável no universo do Carnaval do Rio de Janeiro. Conhecido por sua genialidade e capacidade de transformar desfiles em espetáculos memoráveis, Fábio será lembrado como um verdadeiro mestre da arte de coreografar, especialmente na Imperatriz Leopoldinense, escola com a qual teve uma ligação profunda.

Nascido em Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio de Janeiro, Fábio de Mello iniciou sua trajetória no Carnaval em 1992, quando recebeu o convite da renomada carnavalesca Rosa Magalhães para integrar a equipe da Imperatriz Leopoldinense. Esse marco foi o início de uma carreira brilhante e marcada por desafios, inovações e superações. Ao longo dos anos, ele se destacou como um dos maiores coreógrafos da história do samba, sendo a mente criativa por trás de algumas das comissões de frente mais impactantes e celebradas dos desfiles cariocas.
Seu trabalho foi além da simples coreografia. Fábio de Mello foi responsável por transformar a comissão de frente em um verdadeiro espetáculo, utilizando o espaço da avenida de forma inédita e inovadora. Seus movimentos, sempre harmônicos e intensos, conseguiam dar vida a figuras complexas, criando imagens e mensagens que se tornavam inesquecíveis para o público. Em sua visão, a comissão de frente não deveria ser apenas uma introdução ao desfile, mas uma performance que capturasse a essência do enredo da escola, gerando uma conexão emocional instantânea com os espectadores.
Ao longo de sua carreira, Fábio de Mello enfrentou obstáculos significativos, como dificuldades financeiras e a Síndrome de Guillain-Barré, uma doença que afetou sua mobilidade e exigiu um esforço sobre-humano para continuar trabalhando. No entanto, sua paixão pelo samba e pela arte de coreografar jamais foi abalado por essas adversidades. Sua dedicação e superação se refletiam em cada movimento de seus bailarinos, que, sob sua direção, davam vida a performances que muitas vezes pareciam desafiar as leis da física.
Entre as escolas de samba com as quais Fábio trabalhou, a Imperatriz Leopoldinense se destaca como o principal palco de suas conquistas. De 1992 a 2002, o coreógrafo conquistou 12 notas máximas consecutivas, tornando-se um símbolo de excelência na comissão de frente. Esses feitos marcaram sua trajetória e cimentaram seu nome na história do Carnaval carioca. Além da Imperatriz, Fábio de Mello também deixou sua marca em outras grandes escolas como Beija-Flor de Nilópolis, Unidos do Viradouro e Mocidade Independente de Padre Miguel, sempre deixando sua assinatura de inovação e emoção nas passarelas do samba.
A grandeza do trabalho de Fábio de Mello foi reconhecida por meio de prêmios como o Estandarte de Ouro, o mais prestigiado prêmio do Carnaval carioca. Em sete ocasiões, Fábio foi agraciado com esse prêmio, consolidando-se como um dos maiores coreógrafos de todos os tempos. Sua habilidade em transformar o simples movimento dos corpos em uma poderosa forma de expressão artística foi uma das principais razões para sua popularidade e respeito dentro do universo do samba.
A notícia de sua morte foi confirmada pela Imperatriz Leopoldinense, escola pela qual Fábio de Mello tinha uma ligação especial. A perda é sentida profundamente por todos aqueles que tiveram o privilégio de conhecer sua obra e sua personalidade única. Fábio era mais do que um coreógrafo; ele era um artista que entendia a importância do Carnaval como uma manifestação cultural rica em história e emoção. Seu legado permanecerá vivo nas memórias daqueles que testemunharam seu trabalho e nas futuras gerações de sambistas que seguirão seus passos.
Fábio de Mello pode ter partido, mas sua obra jamais será esquecida. O Carnaval do Rio de Janeiro, mais do que nunca, sente a ausência de um gênio que transformou a arte da comissão de frente em um espetáculo atemporal.



