A ida da cantora Madonna ao Morro da Providência, no Centro do Rio, pegou de surpresa os moradores no fim da tarde de quarta-feira. E quase passou despercebida. Muitos sequer faziam ideia de quem era aquela gringa, de pele muito clara, usando chapéu e roupa camuflada, que subiu a comunidade por uma viela estreita.
Só perceberam se tratar de pessoa importante por causa da movimentação em torno dela. Teve ainda quem só soube da visita pela internet, horas depois, mesmo morando muito perto de onde a estava. De passagem pela cidade para participar do casamento do seu empresário Guy Oseary com a modelo Michelle Alves, a popstar foi à favela conhecer o Espaço Cultural Casa Amarela, levada pelo fotógrafo francês JR, um dos criadores do projeto.
— Até para mim, que estava trabalhando na Casa Amarela naquela hora, foi uma surpresa. Tinha saído para jogar fora o entulho da obra quando vi o JR entrar com uma mulher loura. Quando ela se virou na minha direção foi que reconheci. Aí ela disse “hello” e eu respondi. Fiquei emocionado. Nem consegui tirar foto. Não sabia que ela vinha. Nem que estava no Rio — contou o ajudante de pedreiro Tarcísio Santos de Deus, de 20 anos, fã assumido da cantora.
A parede da residência da dona de casa Jhennifer Falcão da Silva, de 29 anos, é colada à da sede do projeto visitado por Madonna. Apesar dessa proximidade, ela só ficou sabendo da visita da artista por volta das 17h30, quando ela já tinha ido embora. Ela contou que quem mais lamentou foi o marido Edivaldo Marcelino, de 48 anos, fã da popostar, que chegou do trabalho logo após a passagem dela pela Providência.
— Acho que quase ninguém viu. A visita dela pegou a comunidade de surpresa. Meu marido, que é fã dela, está revoltado até agora por ter perdido essa oportunidade — disse, acrescentando que a passagem pela Providência de uma artista como Madonna ajuda a dar visibilidade para a comunidade, marcada pela violência.
O fotógrafo Maurício Hora, de 49 anos, que fundou a Casa Amarela com o francês JR, contou que a visita foi mantida em segredo, por uma questão de segurança da artista. Ele disse que Madonna chegou na favela por volta das 15h e permaneceu cerca de uma hora no local. Segundo Maurício, a cantora chegou acompanhada de um pequeno grupo de pouco mais de cinco pessoas e acessou a sede do projeto por uma viela estreita, ao lado da estação do teleférico, no alto do morro.
A opção por esse caminho, na chegada, foi para manter a discrição. Já na saída, como não tinha mais como esconder a presença da visitante ilustre, Madonna optou por vencer os cerca de 160 degraus de uma longa escadaria que separam a sede do projeto, num local conhecido por Largo da Igreja, até a estação do teleférico, na Ladeira do Barroso, que é até onde dá para chegar de carro. Na escadaria, ela posou para foto ao lado de dois policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). A imagem foi postada em suas redes sociais.
— Ela veio conhecer o projeto, trazida pelo JR, que é seu amigo. Não sou fã dela. Gosto mesmo de música brasileira, com predileção pelos mineiros Beto Guedes e Milton Nascimento. Mas achei ela muito educada e bem simples. Brincou com as crianças e não demonstou nenhum estrelismo — afirmou Maurício Hora.
Movida pela curiosidade com a movimentação fora do normal na porta do seu estabelecimento, Sônia Regina Domingos, de 57 anos, da dona de uma birosca ao lado da escadaria, foi até a porta da lojinha e ainda pôde ver a cantora saindo da comunidade.
— Alguém falou que era a Madonna aí eu fiquei curiosa e fui ver. Minha filha que estava aqui me ajudando fez uma foto dela. No início pensei que fosse mais uma gringa.
Pouco antes da chegada da cantora à comunidade havido ocorrido um tiroteio. Nesta manhã, a situação estava tranquila e havia bastante policiamento nos acessos e na Ladeira do Barroso.
A Casa Amarela é um projeto fundado em 2009 no alto do Morro da Providência, que abriga atividades artísticas e pedagógicas para moradores. Entre as oficinas oferecidas estão as de fotografia e teatro, além de aulas de inglês, francês e de reforço escolar.