O desabamento de um muro de alvenaria em Benfica, na Zona Norte do Rio, deixou ao menos um morto e sete feridos na manhã desta quarta-feira. Dois estão em estado grave. Três quartéis do Corpo de Bombeiros foram acionados para a Rua Couto de Magalhães, onde ocorreu o incidente. Trata-se de uma obra de empresa contratada para programa da Prefeitura do Rio, o Favela-Bairro, na comunidade do Arará. A construção pertence ao Morar Carioca, da Secretaria municipal de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação, e teria desabado sobre moradores de rua que estavam na calçada.
Os bombeiros levaram as vítimas para o Hospital Municipal Souza Aguiar e para o Hospital Municipal Salgado Filho. A Defesa Civil municipal também foi acionada. Os profissionais de resgate trabalharam com as mãos. A sessão de operação com cães dos bombeiros foi ao local para procurar por possíveis vítimas debaixo dos escombros. As buscas por feridos terminaram às 11h. O muro tinha seis metros de altura e 50 metros de extensão.
Em nota, a Prefeitura informou que a secretaria notificou a empresa Hydra Engenharia para prestar esclarecimentos sobre a queda do muro. O terreno foi alugado pela companhia, que é responsável pelas obras do programa municipal Favela-Bairro na comunidade do Arará, e usado para operações de logística e armazenagem de material. O órgão ainda destacou que aguarda conclusão da perícia sobre as causas do acidente para decidir que medidas tomar.
O Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio, recebeu três feridos. Um homem de 43 anos tem quadro de saúde grave, com traumatismo craniano e toraco-abdminal. Uma mulher de 32 anos, em condição estável, chegou à unidade com fratura exposta e passa por cirurgia ortopédica. Um homem de 33 anos também teve fratura exposta, no pé, e vai precisar de procedimento cirúrgico. Já no Hospital Salgado Filho, no Méier, atende quatro vítimas. Uma mulher de cerca de 50 anos está em estado grave e respira por aparelhos. Outra mulher, de 35 anos, tem lesão no braço e passará por cirurgia. Dois homens, de 31 e 39 anos, passaram por avaliação médica e tiveram alta ainda pela manhã. As informações são da Secretaria municipal de Saúde.
Dois moradores de rua — Michel Pires, de 34 anos, e uma mulher identificada apenas como Juliana — que não se feriram no acidente recebem assistência no Centro Pop, no Hotel Santana, segundo a prefeitura.
O Centro de Operações da Prefeitura informou que, em função da queda da estrutura do imóvel, a Rua Couto de Magalhães foi totalmente interditada em frente ao número 225. A Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos enviou equipes para prestar atendimento às vítimas. Foram ao local a subsecretária de Proteção Básica e Especial, Claudia Lasry, duas coordenadoras da área do Centro e Grande Lins/Méier e quatro assistentes sociais.
Também foram acionadas equipes da Guarda Municipal, da Comlurb, da CET-Rio e da Polícia Militar. Um vídeo publicado no Facebook mostra a ação de socorro na área isolada e o pedaço do muro que permaneceu de pé.
Obras da Prefeitura
O muro fazia parte de um canteiro de obras do Morar Carioca, que há pelo menos um ano construía moradias na favela Arará. O terreno foi cedido ao governo municipal pela Apae. Segundo moradores, ficavam no local entre 20 e 25 usuários de drogas diariamente. A residente Aline Habib apostou que a quantidade de material de construção escorada no muro, do lado de dentro do terreno, pode ter ocasionado o desmoronamento.
— A gente via até que o entulho passava da altura do muro. Como é um terreno antigo, a estrutura provavelmente não aguentou — avalia Aline, segundo a qual era comum que pessoas não identificadas ateassem fogo no muro, para espantar os moradores de rua.
Já Honório Barbosa, que mora em frente ao local da acidente, diz que a queda foi uma surpresa para os moradores.
— Como a movimentação de obra e tratores já é antiga, ninguém ia imaginar que a estrutura não aguentaria. Foi tão rápido que quando eu corri pra varanda, já tinha caído toda a estrutura — destacou o morador.
Em abril de 2016, segundo informações do site da Prefeitura, o então prefeito Eduardo Paes (PMDB-RJ) apresentou intervenções do Programa Morar Carioca na comunidade Vila Arará, em Benfica. A ação fazia parte de um conjunto de obras executadas pela SMHC que prometia alcançar 19.698 pessoas em 5.397 domicílios. Licitações e investimento da iniciativa eram estimadas em R$ 86,2 milhões à época. A área seria uma das beneficiadas com urbanização, implantação de infraestrutura, contenção de encostas, criação de áreas de lazer e paisagismo.
Na Vila Arará, estavam programadas a pavimentação de 5.416 m² de ruas e calçadas, a instalação de 2,8 quilômetros de redes de água e 971 ligações domiciliares. Ainda era prevista a construção de quase três quilômetros de redes de drenagem, 1.066 m² de áreas de lazer e paisagismo e 219 pontos de coletas de lixo.
A obra em Benfica tinha valor estimado em R$ 21,9 milhões e beneficiaria, segundo a Prefeitura, 7.637 pessoas em 2.064 domicílios. O prazo estimado para a execução é de 720 dias.
Buscas feitas com ajuda de drones
O coronel Carlos Simas, do Corpo de Bombeiros, afirmou que a maior dificuldade da operação foi a identificação de quantos seriam os feridos pois os moradores de rua não tinham parentes para reclamar ausência. A informação inicial foi de que seriam 12 as vítimas, número que ao fim foi reduzido para 8. As buscas foram feitas com a ajuda de drones e também de cães farejadores:
— Foi um trabalho complicado até para uma equipe experiente. Quando se tratam de vidas, pensamos no sofrimento e há um envolvimento maior. Mas pelo tamanho da estrutura, e com apenas uma vítima fatal, podemos avaliar que foi uma operação de sucesso.
O local perto do muro está interditado. Segundo o coronel, a estrutura corre risco de novos desabamentos e deve ser demolida para a construção de uma nova.
Um caminhão da Comlurb chegou por volta das 11h30 para levar o entulho retirado do local por escavadeiras. A via será liberada pra o trânsito depois da limpeza total do local.
FONTE: EXTRA