A Cidade do Rio de Janeiro de março á abril geralmente vira mar. Na manhã de hoje, inúmeras residências foram inundadas até o teto! E pela lei de Murphe, o fato deve piorar! Segundo o COR, o volume pluviométrico de água deve ficar mais intenso nas próximas horas. Ou seja, mais água por metro cúbico em milésimos de segundos! Quem sabe ao invés de carro, a solução neste período do ano ter botes ⛵ em casa? O fato seria cômico se antes não fosse estarrecedor!
O prefeito está “surpreso”. A população, surpresa! Mas, a grande historia da intimidade entre o Rio de Janeiro e as fortes chuvas de março e abril, é antiga. De muitas visitas, retornos e revira voltas. Meu prefeito sei que a queda da ciclovia lhe preocupa. Mas, ainda há tantas vias que desejo lhe mostrar. Vamos começar pelas vias históricas, já que viver é também recordar.
Sei que não tens culpa de nada. Também sei que devemos das pessoas cuidar. Você me ajuda? Eu lhe ajudo a historia da cidade do Rio decifrar. Então, vamos lá?
1- Chuvas na cidade do Rio. Segue o fio. Vivaldo Coaracy – primeiro sujeito que deve ser lido para se estudar a história da cidade – fala do espanto do Padre Anchieta com fortes chuvas que alagavam o Rio na década de 1570.
2- Vieira Fazenda, outro clássico, cita uma chuvarada que não saiu da memória da cidade durante muito tempo. Foi durante a invasão dos piratas franceses de Dugay-Trouin, que sequestrou a cidade (sim, a cidade toda) no meio do temporal. Isso foi em 1711.
3- Enchente de 1811 é talvez a mais lendária da cidade. Recebeu até nome: enchente das “Águas do monte”. Morreu gente, desabou parte das muralhas da Fortaleza de S. Sebastião. D. João mandou que abrissem todas as igrejas para acolher desabrigados. Parte do Morro do Castelo desabou.
4 – Em 1864 os cariocas apelidaram outra enchente: foi a “chuva de pedra”, com granizos e os cacetes. A cidade ficou debaixo d´água, casas caíram, igrejas foram destelhadas, bois boiavam. Machado de Assis, nascido em 1839, conta que nunca se esqueceu do dilúvio.
5- Vieira Fazenda cita uma enchente que acabou com uma procissão de quarta-feira de cinzas e destruiu a cidade em 1854. Fala de um dilúvio que em 1897 destruiu uma festa no Itamaraty e arrasou parte do centro.
6- Olavo Bilac fala, daquele jeitão dele, “das ruas transformadas em rios, as praças, mudadas em lagoas, os bondes metamorfoseados em gôndolas, – e homens e cachorros nadando, como peixes, pela vasta extensão das águas derramadas”. Isso foi em 1904, ano da reforma do Pereira Passos.
7 – Lima Barreto tem talvez a mais famosa crônica sobre enchentes na cidade, de 1915. Lima acusou Pereira Passos diretamente: “O prefeito Passos, que tanto se interessou pelo embelezamento da cidade, descuidou completamente de solucionar esse defeito do nosso Rio. ”
8 – Em 1906, parte dos morros da Gamboa, Santa Teresa e Santo Antônio foram arrasados pelas águas. O Mangue transbordou. Em 1924, parte do São Carlos veio abaixo. Marques Rebelo citou enchentes bíblicas em suas crônicas.
9 -Em janeiro de 66 uma enchente deixou mais de 250 mortos e 50 mil desabrigados. Em janeiro de 67 ocorreu o deslizamento em Laranjeiras que arrasou uma casa e dois edifícios e matou mais de 200. A família de Paulinho Rodrigues, irmão de Nelson Rodrigues e Mário Filho, morreu.
10 – A enchente de fevereiro de 88 deixou 289 mortos e quase 30 mil desabrigados. Os desfiles das campeãs foi cancelado na Sapucaí. A lista é infinda.
11 – A cidade do Rio foi fundada lutando contra a natureza. Foi arrasando morros, drenando pântanos, aterrando mangues, a baía, lagoas e praias, que chegamos até aqui; O fato é citado por cronistas e viajantes desde o século XVI.
12 – Tempestades são inevitáveis. Alterações no clima podem apenas piorar o que é comum desde os tupinambás e piorou com a urbanização descacetada. O descaso do poder público, exceções confirmam a regra, só piora.
13 – Para quem quiser saber mais, sugiro Vivaldo Coaracy: Memórias da cidade do Rio de Janeiro. Vieira Fazenda tem o clássico Antiqualhas e Memórias do Rio de Janeiro. Do Marques Rebelo, O Trapicheiro fala das chuvas. “As enchentes”, crônica do Lima Barreto, tá na rede.
14 – As crônicas cariocas do Machado, a chuva aparece aqui e ali, estão reunidas em “A Semana”. Andréa Casa Nova Maia tem o artigo “Memórias de Rio de Janeiro inundado em relatos de cronistas e literatos” publicado nos anais do XXVII Simpósio Nacional de História.
15 – J. Carlos fez charges sobre diversas enchentes. No livro O Vidente Míope, obra dele, com organização de imagens do Cássio Loredano, fala-se sobre isso.
16 – Moreira da Silva gravou Cidade Lagoa, de Cícero Nunes e Sebastião Fonseca, em 1959:
“Esta cidade, que ainda é maravilhosa,
Tão cantada em verso e prosa,
Desde os tempos da vovó.
Tem um problema, crônico renitente,
Qualquer chuva causa enchente,
Não precisa ser toró.
asta que chova, mais ou menos meia hora,
É batata, não demora, enche tudo por aí.
Toda a cidade é uma enorme cachoeira,
Que da Praça da Bandeira,
Vou de lancha a Catumbi.”
17 – Edson Alves, Teólogo, poeta e escritor, destaca que o prefeito Marcelo estava mais preocupado com a queda da ciclovia, do que com alagamento de milhares de casas e vias na zona oeste. Prefeito em pleno séc. XXI, em 2019 se declarou surpreso e considerou “atípico” o que aconteceu na cidade. Isso, devido não possuir um assessor igual á mim. Não há nada de inédito nestas fortes chuvas. Assim como descaso das autoridades, a falta de saneamento e a lenta urbanização ineficaz é a mesma. Prefeito Crivela, para que o barco do Rio não fique á derivas, me ajude a ajudar as pessoas. E apesar, dos estragos o carioca permaneceu solidário, lindo e sendo, de piedade a ternura, de generosidade á caridade, o Rio continua lindo, o Rio de Janeiro, continua sendo. Alô prefeito, aquele abraço! Ser do Bem, é reconhecer que política passa, mas, amigos ficam. E quem não fica para ajudar as pessoas, se for, vai, vai! Quem for, vai? Vai!
Para sorte do povo carioca, hoje o sol surgiu, para alegrar nossas vidas.
Ninho, O anônimo.
Versão: Carioca.
Tom, perplexo.
Conto: Rio e a dança das Chuvas.