Uma planilha encontrada pelas autoridades trouxe à tona uma faceta calculista e metódica da guerra do tráfico no Rio de Janeiro. O protagonista deste enredo não é um empresário nem um contador — mas sim um dos traficantes mais influentes do Complexo do Alemão, conhecido apenas pelo apelido enigmático: Professor.
Segundo investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro, em um período de apenas 12 dias, no ano de 2023, o traficante adquiriu 68 fuzis. O dado, surpreendente por si só, vem detalhado em uma planilha digital atribuída ao próprio criminoso e agora sob análise minuciosa das forças de segurança.
O documento, que parece ter sido organizado com precisão quase empresarial, registra que Professor desembolsou a quantia exata de R$ 1.088.000,00 na compra dos armamentos. Isso significa que, em média, cada fuzil custou R$ 16 mil, um valor abaixo do mercado informal comum, o que pode indicar relações diretas com fornecedores ou um esquema de grande escala com facilidades logísticas.
As armas teriam sido destinadas ao Comando Vermelho (CV), facção criminosa que domina várias regiões da capital fluminense. A rápida aquisição em um curto espaço de tempo reforça os indícios de um planejamento para fortalecer o poder de fogo da organização, possivelmente em resposta a ações de rivais ou da própria polícia.
Apesar do nome “Professor” sugerir um passado acadêmico, investigadores ainda não confirmaram a origem do apelido. O que se sabe, no entanto, é que o traficante se destaca dentro do CV pela sua capacidade de organização e pelo papel estratégico que ocupa dentro da hierarquia da facção.
A planilha apreendida pode ser a ponta de um iceberg ainda maior: ela revela não só a capacidade financeira do grupo, como também uma logística sofisticada por trás do armamento pesado nas comunidades dominadas pelo tráfico. Com os dados em mãos, a Polícia Civil pretende rastrear possíveis rotas de entrada de armas e identificar outros envolvidos nas negociações.
Enquanto isso, o nome “Professor” permanece nas sombras — agora não apenas como líder do tráfico, mas como o cérebro por trás de uma das maiores operações de compra de fuzis já registradas no Rio.