CORTARAM A FONTE?
Sem pagar os salários de seus 44 funcionários há mais de oito meses, a Organização Não Governamental Afroreggae, comandada por José Junior, tenta se reinventar para não fechar as portas. A dívida acumulada chega a R$ 7 milhões e há poucas soluções possíveis no curto prazo, segundo seu fundador. “Estamos com muitos meses de salário atrasado. Alguns projetos foram fechados e as atividades estão muito abaixo de tudo o que a gente sempre fez. É a pior crise da nossa história.”
O ativista social diz que a saída de grandes patrocinadores, como Santander, Odebrecht e Natura, além do atraso de repasses da Prefeitura e do Governo do Estado do Rio, tornou a operação dos três centros comunitários do Afroreggae insustentável nos moldes em que se mantém funcionando desde sua fundação, em 1992.
No auge, o Afroreggae chegou a ter um orçamento anual de R$ 20 milhões e mais de 400 funcionários. Hoje, os recursos não chegam a 10% do que já foi, assim como o número de colaboradores. As tentativas em curso de reformulação da ONG passam por parcerias para administrar as unidades e mudar a estrutura das atividades oferecidas às populações de Vigário Geral, Complexo do Caju, Cantagalo e Parada de Lucas. O Centro Cultural Waly Salomão, inaugurado em 2010, em Vigário Geral, deve ser o primeiro a contar com gestão privada de suas atividades. O ativista também planeja a criação de um time de E-Sports formado só por jovens de comunidades carentes do Rio. “Vai ser o primeiro time de E-Sports de favela no mundo.”
Além de parcerias com empresas interessadas em tocar os projetos e espaços da ONG, Junior se dedica ao braço de vídeo do Afroreggae. Batizada de Afroreggae Audivisual, a produtora tem entre seus sócios o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, Fábio Barbosa e Marcel Portela, ex-presidentes do Santander no Brasil, e Patrícia Ellen da Silva, sócia da consultoria Mckinsey. “Percebi que o modelo do terceiro setor saturou. O que eu fazia de atividades socioculturais sempre foram muito legais. Mas tem uma hora que satura”, diz. “Você tem que ter a humildade e inteligência de saber qual é o teu momento. Hoje é um momento extremamente estratégico. Estamos fodidos e preciso mudar.”