O anúncio do prefeito Marcelo Crivella de autorizar o retorno às aulas de escolas particulares a partir do próximo dia 3 deixou pais, alunos e professores preocupados, inclusive os das escolas públicas. O maior temor é que o contato de estudantes e o aumento de passageiros no transporte público possa gerar uma segunda onda da doença no Rio, impactando também quem mantinha isolamento social mais rigoroso por ter pessoas de grupo de risco em casa.
Boa parte dos pais não quer mandar seus filhos agora. Acham precipitada a decisão do Crivella. Está todo mundo aqui no grupo de pais desesperado. Eu não vou mandar meus filhos. Aqui em casa tem gente do grupo de risco. Não vou seguir a cabeça do prefeito. E muitos não vão mandar também — , comentou o arquiteto Guilherme Osborne, pai de gêmeos de 16 anos, estudantes do colégio Santo Inácio, antes de saber das novas regras anunciadas pelo prefeito, em coletiva de impresa, no final da tarde desta terça-feira.
Guilherme Osborne acredita que o mais seguro será retornar quando tiver a vacina.
— Não tem essa história de criança pega de leve. Então, isso pode resultar na tal da segunda onda. A doença não passou de todo, ainda não existe vacina e acho que as escolas particulares devem continuar com aulas virtuais —, sugere.
Mãe de outro estudante do colégio, do segundo ano do Ensino Médio, Renata Prates considera “absurdo” o retorno neste momento, em que ainda há incertezas sobre a pandemia de Covid-19.
— Eu sou totalmente contra esse retorno. Acho um absurdo! Tanto que o colégio fez uma pesquisa conosco, pais, uma semana atrás, perguntando se o retorno fosse em agosto se nós mandaríamos nossos filhos. Eu disse que não. E se fosse em setembro, eu também disse que não. Conheço muita gente que também não concorda com o retorno — , conta. Renata acredita que a escola vai optar pelo método híbrido (aulas virtuais e presencial, apenas para que optar).
Diogo de Andrade teve Covid e ficou 21 dias isolado da família. Professor de Língua Portuguesa na Escola Municipal Georg Pfisterer, ele também está preocupado. Pai de dois filhos, estudantes da mesma unidade, Diogo acredita que a cidade ainda não está preparada para o movimento de estudantes nas ruas e em transportes públicos. Com a mulher, que está grávida, decidiu que os filhos de 12 e 14 anos não voltam às aulas até eles ficarem seguros.
–— Temos 1.200 alunos para dois inspetores por turno. No recreio, 600 alunos ficariam de que jeito? A maioria dos nossos alunos vem da Rocinha, com 80%, e os outros do Vidigal, da Cruzada São Sebastião, Tijuquinha e Rio das Pedras, além de filhos de porteiros da região do Leblon. Quem no transporte público usa máscara direito? Então, imagina o aluno saindo de casa, encontrando com seus colegas e todos pegando um ônibus cheio porque coincide com o horário escolar e do trabalho das pessoas –—, argumenta, lembrando dos riscos de a cidade não ter testagem em massa.
Além dos transportes sem ventilação, Diogo de Andrade lembrou que as escolas se adaptaram para receber aparelhos de ar-condicionado e fecharam janelas para facilitar a climatização.
–— Muitos transportes públicos, por conta da climatização, não têm janelas. Nos próprios ônibus do BRT, as janelas não abrem. E imagina no engarrafamento quanto tempo essas pessoas vão ficar dentro de um mesmo ambiente respirando o mesmo ar? E no Rio não há testagem em massa –—, observou.
‘Vai ter EPI para todos os profissionais de Educação’
Para Diogo, até o escalonamento de alunos pode trazer riscos na sala de aula das escolas públicas.
–— Colocar metade dos alunos em sala, por exemplo, vinte alunos mais o professor ou a professora, ainda é muita coisa. São 20 famílias diferentes, 20 trajetos diferentes até a escola. E lá temos outro desafio, que é como manter esses adolescentes com máscara, fazendo a higienização das mãos. Será que vai haver EPI para todos os profissionais da Educação? O álcool vai chegar em quantidade suficiente e será reposto no tempo adequado?
Juan Leandro, de 14 anos, que cursa o 9º ano da Escola Municipal Georg Pfisterer, acha que as voltas as aulas seriam um risco neste momento. Mesmo que haja dificuldades em fazer os deveres de casa passar dos professores por um aplicativo de celular.
–— Acho que a gente devia continuar assim, afastados, não ter aula, para todo mundo ficar bem e não pegar o vírus. Porque se nós formos na escola os professores não vão conseguir segurar os alunos na sala de aula com máscaras. Toda hora lembrar de passar álcool em gel. Os mais velhos até que podem vir a ter responsabilidade, mas os mais novos, não.