O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral e sua mulher, Adriana Ancelmo, são acusados de usarem irregularmente os helicópteros do estado para fins particulares. De acordo com denúncia do Ministério Público local, o casal teria usado as aeronaves irregularmente pelo menos 2.281 vezes. O prejuízo estimado ao erário é de R$ 19,7 milhões (calculando as verbas destinadas a combustível e manutenção dos helicópteros). A pena pelo crime pode chegar a 12 anos.
Ainda segundo a denúncia, em seu segundo mandato como governador, Cabral comprou duas aeronaves mais modernas e confortáveis, por meio de licitações suspeitas, no valor total de R$ 32 milhões. As negociações também estão sob investigação: para o MPRJ, as novas aquisições, por serem mais luxuosas do que outras unidades do estado, aumentaram os custos de manutenção e combustível.
Segundo depoimentos de testemunhas, entre elas pilotos, a aeronave modelo “Agusta AW 109 Grand New”, de alto luxo, era usada quase com exclusividade pelo ex-governador, sua mulher, filhos do casal e babás. Porém, por vezes, no trajeto entre o Rio de Janeiro e a casa de veraneio de Cabral no condomínio Portobello, em Mangaratiba, outros dois helicópteros eram usados simultaneamente para transportar amigos do casal e dos filhos, noras, familiares e empregados domésticos.
Ainda de acordo com as testemunhas, Adriana Ancelmo tinha autonomia para solicitar viagens nas aeronaves e voar mesmo sem a presença do governador – fato também comprovado pelos registros dos diários de bordo. Os relatos e os documentos revelam pelo menos 220 viagens solo da ex-primeira-dama, orçadas em mais de US$ 187 mil.
De acordo com a denúncia, às sextas-feiras, era comum Adriana Ancelmo ser transportada de helicóptero do Rio para Mangaratiba sozinha, em determinado horário, e, mais tarde, Sérgio Cabral fazer o mesmo percurso também desacompanhado. As provas testemunhais e documentais produzidas pela investigação apontam ainda que outras autoridades foram transportadas em helicópteros oficiais durante viagens particulares.
Ainda segundo o MPRJ, em pelo menos 109 ocasiões, três helicópteros do Estado do Rio de Janeiro deslocaram-se, ao mesmo tempo, até o condomínio Portobello para buscar a família Cabral, empregados domésticos e convidados hospedados na casa de veraneio do ex-governador. Em depoimento, os pilotos afirmaram que esta situação era denominada por eles de “revoada”.
Segundo a investigação, enquanto Cabral e familiares eram transportados em helicópteros públicos entre Rio e Mangaratiba, o estado colocava à sua disposição, no Condomínio Portobello, três viaturas públicas, sendo uma blindada, além de 11 militares responsáveis pela segurança do então chefe do Executivo fluminense 24 horas por dia. Pelo trabalho, os militares recebiam diárias de alimentação e hospedagem, uma vez que eram originários da capital, aumentando ainda mais as despesas pagas pelo contribuinte fluminense.
Além do trajeto para a casa de veraneio, Sérgio Cabral era transportado nas aeronaves públicas com frequência quase diária entre a Lagoa Rodrigo de Freitas e o Palácio das Laranjeiras, sede do governo fluminense. De acordo com a denúncia, nas férias escolares, o ex-governador também chegava a fazer viagens diárias na rota Rio x Mangaratiba.