A relação conturbada entre um casal de policiais militares do DF transformou-se em dois inquéritos na Polícia Civil: um apura relatos de violência doméstica e o outro investiga o suposto desvio de munições do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). O sargento Ricardo Oliveira Gonçalves, que pertence à unidade de elite da corporação, está preso por ter agredido a esposa, lotada na equipe de segurança pessoal da primeira-dama do DF, Márcia Rollemberg.
As apurações correm em sigilo na Polícia Civil, na Corregedoria-Geral da PMDF e no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT). De acordo com as investigações, em 5 de junho, a policial – tenente da PMDF – teria sido vítima de agressões pelo marido. No dia seguinte, o caso de violência doméstica chegou ao conhecimento da Casa Militar e do Comando-Geral da PMDF. A oficial foi orientada a registrar ocorrência na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam).
Em 9 de junho, a PMDF prendeu o sargento administrativamente, e o Poder Judiciário expediu o mandado de prisão. O policial foi então recolhido à Papudinha, ala do Complexo Penitenciário da Papuda onde servidores das forças de segurança ficam encarcerados. Após as agressões, a tenente foi afastada das funções na segurança da primeira-dama e encaminhada pela Casa Militar ao Centro de Assistência Social (Caso) da Polícia Militar.
Arsenal
Apurando a ocorrência de violência doméstica, a corporação chegou à informação de que o sargento do Bope mantinha grande quantidade de munições em casa. Durante cumprimento de mandados de busca e apreensão, policiais da Corregedoria da PMDF encontraram cerca de 1,7 mil cápsulas intactas de balas de diversos calibres na residência de Ricardo Oliveira Gonçalves – elas seriam usadas em treinos de tiro feitos pelos membros da unidade.
Conforme o Metrópoles apurou, outros integrantes do Bope – tanto praças quanto oficiais – também foram alvo de mandados de busca e apreensão. A equipe da Corregedoria da PMDF teria vasculhado os armários dos militares lotados na unidade especializada. O objetivo é descobrir se o arsenal encontrado na casa do sargento foi desviado ilegalmente e se houve participação de outros colegas de farda na suposta irregularidade.
Outro lado
A defesa do sargento Ricardo Gonçalves foi contatada para falar sobre a situação, mas preferiu não se manifestar, pelo fato de o processo correr em segredo de Justiça.
Procurada pela reportagem, a Casa Militar do Distrito Federal informou que tem conhecimento do caso, mas disse tê-lo repassado ao Comando da PMDF, a quem cumpre determinar a abertura de inquérito policial militar (IPM) contra o sargento do Bope. Por sua vez, a própria Casa Militar decidiu pelo encaminhamento da tenente vítima de violência doméstica a tratamento psicológico.
A PMDF informou, em nota, que “o policial em questão não foi preso pela Polícia Militar, mas por uma decisão judicial, por meio de medida cautelar. No entanto, em todos os casos de violência doméstica nos quais um policial militar atua como agressor, é instaurada investigação ético-disciplinar”, explicou a corporação no texto.