O governador eleito Ibaneis Rocha (MDB) agiu rápido. A escolha do delegado que vai comandar a Polícia Civil do DF em sua gestăo ocorreu pouco mais de 12 horas depois da eleiçăo pela categoria da lista tríplice. Foi uma forma de evitar guerras nos bastidores que pudessem desgastar os candidatos. A decisăo foi tomada no começo da manhă de ontem em conversa com o presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do DF (Sindepo), Rafael Sampaio. Ibaneis perguntou: “O primeiro da lista contempla?”. O sindicalista afirmou que os três nomes representam os policiais e que o mais votado seria uma boa escolha. Foi assim que o delegado Robson Cândido da Silva, 46 anos, chefe da 11ª Delegacia de Polícia (Núcleo Bandeirante), virou diretor-geral.
Com 265 votos entre os colegas, Robson superou Benito Tiezzi, ex-presidente do Sindepo, querido na classe, que teve 242 votos. O terceiro na lista, Gilberto Maranhăo, conquistou 170 apoios. Poucas vezes esteve com Ibaneis. O contato é apenas institucional. Ele também nunca participou de disputas pelo comando. Jamais se candidatou para listas tríplices.
O sucessor de Eric Seba sempre trabalhou em delegacias circunscricionais. Nunca atuou como titular de uma unidade especializada. Mas conhece bem a realidade da segurança pública. Passou pelas delegacias de Ceilândia, Taguatinga, Gama, Recanto das Emas, Riacho Fundo e, desde 2016, é delegado-chefe no Núcleo Bandeirante.
Nascido em Pires do Rio (GO), Robson está na Polícia Civil há 28 anos. Antes de tomar posse como delegado, em fevereiro de 1999, ele foi agente em Goiás. Agora, no comando da instituiçăo, promete montar uma equipe técnica. Ele năo se considera um homem de grupos e pretende trabalhar com critérios de meritocracia. A retomada da autoestima da categoria, a conquista da paridade dos salários da Polícia Civil aos da Polícia Federal, prometida por Ibaneis na campanha, e a abertura das delegacias por 24 horas săo algumas metas. Ele também pretende incrementar o combate à corrupçăo. “Essa é uma demanda nacional, internacional, em todos os acordos de cooperaçăo”, disse.
A escolha foi aplaudida pelo Sindepo e aceita pelo Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol/DF), que suspendeu o processo de eleiçăo de uma outra lista com votos dos demais servidores.
Como será assumir o comando da Polícia Civil num momento em que a categoria se encontra abatida pela atual relaçăo conflituosa com o Executivo?
Confio muito no governador Ibaneis. Acredito que ele vai nos resgatar, e a gente vai trabalhar para elevar a autoestima dos policiais. Vamos construir novamente aquela polícia de eficiência, proativa. Sempre fomos considerados a melhor polícia do Brasil. O meu objetivo de vida hoje é resgatar a polícia năo só na questăo salarial, que é importante, mas também na gestăo de pessoas. Quero implementar a meritocracia.
O que vai ser considerado na escolha da sua equipe?
O critério técnico. Năo tenho nomes, năo tenho grupos, năo sou de nenhum grupo. Nós vamos, realmente, construir um perfil técnico.
O senhor é um delegado político ou técnico?
Como sempre participei das questőes sindicais, eu me considero um delegado que vai conseguir trabalhar a questăo técnica e também vou conseguir dialogar com a área política.
O que levou a uma votaçăo expressiva como primeiro colocado na lista tríplice?
Foi a construçăo de uma vida dentro da polícia. Sempre fui verdadeiro com os meus pares, buscando o diálogo, sem tentar desconstruir a imagem de outros colegas. Acho que isso foi o principal ponto que me levou a ser o primeiro na lista.
Fala-se que o senhor é amigo do deputado Wellington Luiz, o que teria ajudado na nomeaçăo. Procede?
O Wellington é amigo meu, amigo do Sindicato dos Delegados de Polícia, do Sindicato da Polícia. Ele é policial, sempre defendeu os policiais; entăo, ele năo é só meu amigo. É amigo de todos nós, mas acredito que figurar em primeiro da lista foi um fator primordial. Tenho certeza de que ter amizades pessoais năo mudariam esse resultado.
Será possível abrir todas as delegacias?
Com certeza. Estamos imbuídos desse objetivo. Esse é um compromisso do governador (eleito). Vamos reabrir as unidades e prestar um serviço de qualidade. As pessoas estăo precisando de socorro. Tem de ser urgente, porque as comunidades estăo carentes de segurança.
Como melhorar a autoestima dos policiais?
Nós passamos por uma deficiência muito grande no quadro. É um compromisso do nosso governador realizar novos concursos. É importante que as delegacias funcionem de forma plena, e isso passa pela contrataçăo de policiais, buscando também a questăo salarial, que é primordial. Mas năo podemos nos apegar somente a isso. Passa pela valorizaçăo e pela motivaçăo dos policiais. Quando eu me sentar na cadeira de diretor-geral, quero ouvir os policiais, passar por todas as delegacias, conhecer o que os policiais querem do novo diretor. Quero pacificar a Polícia Civil.
A votaçăo interna do seu nome significa um desejo de renovaçăo?
Sim, mas năo é só na Polícia Civil. Vimos o resultado das eleiçőes. O próximo diretor, que, no caso, sou eu, tem um compromisso năo só de eficiência, mas de renovaçăo no comportamento. Mudança na produçăo policial. Precisamos ser mais eficientes, fazer um trabalho digno para a populaçăo, melhorar o atendimento, investigar mais.
O combate à corrupçăo é uma prioridade?
Com certeza. Essa é uma demanda nacional, internacional, em todos os acordos de cooperaçăo. Nós vamos fortalecer o combate à corrupçăo e ao crime organizado. Vamos fortalecer ao máximo o que pudermos para combater diuturnamente.
Tem algum grupo na polícia que tentou impedir a sua nomeaçăo?
É uma coisa que năo poderia falar. As coisas săo tăo sensíveis, mas acredito que năo. O anúncio foi tăo rápido.
O senhor vai manter as coisas que dăo certo na atual gestăo?
Com certeza. A gente tem de aproveitar o que há de bom, o técnico. A administraçăo é grande, tem espaço. Temos de valorizar o servidor, năo só o delegado. Toda a Polícia Civil precisa ser valorizada, com perfil técnico. Temos de evoluir. Năo podemos ficar apenas em grupos.
O senhor foi escolhido antes mesmo da definiçăo do próximo secretário de Segurança Pública. Isso pode comprometer a sua relaçăo como chefe da pasta?
Com certeza, năo. Tenho um perfil de diálogo, de construçăo. Tăo logo seja anunciado o secretário, quero me apresentar para ele e dizer que teremos um trabalho juntos.
O comandante da Polícia Militar também?
Com certeza. Tenho um relacionamento muito bom com a Polícia Militar, sempre tive por onde fui delegado-chefe e delegado de plantăo. Sempre tive um tratamento de excelência com os policiais militares. Um bom relacionamento com a PM é primordial para que a segurança funcione.