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*REJEITADA PELO PAI, TRAVESTI QUE MORA EM PONTO DE ÔNIBUS QUER ‘DIGNIDADE DE VOLTA’*
“Eu não quero nada por caridade, por pena de mim. Quer me dar alguma coisa? Me dê um emprego para eu ter de volta a minha dignidade, como já dizia a minha mãe.” O pedido é da moradora em situação de rua Carmem, de 37 anos. A travesti — que foi registrada com o nome de Luiz Rodrigo de Noronha — é dona do quarto improvisado embaixo de um ponto de ônibus na Praça Nossa Senhora do Amparo, em Cascadura, Zona Norte do Rio.
— Você tem que se amar, cuidar de si mesma. Não importa se você está na rua ou em qualquer outro lugar. Quero me virar por minha própria conta. Isso aqui não é um exibicionismo para as pessoas verem e tirarem fotos. Só tento oferecer o melhor para mim, o que está ao meu alcance. Não sou infeliz. Não sofro por esperar minha quentinha chegar ou por precisar de uma ajuda — diz a travesti, que é portadora do vírus HIV e que já trabalhou como diarista e faxineira.
Carmem nasceu em Belém, no Pará. No Rio, estudou até o Ensino Médio, mas não chegou a concluir o último ano. Brigas de família, há cerca de dez anos, a fizeram ir morar nas ruas da cidade. Segundo ela, o autoritarismo do pai militar e também a não aceitação em casa foram os principais motivos para a tomada de decisão de ir para as ruas.
Na manhã desta quarta-feira, uma equipe de abordagem da Secretaria municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH) do Rio esteve no local para oferecer o acolhimento, que não foi aceito. Os três agentes da prefeitura chegaram por volta das 10h e conversaram com o travesti durante cerca de 15 minutos. Carmem recusou o abrigo.
— Abrigos de prefeitura, em qualquer lugar, são um descaso, mal cuidados. Lá, eu não sei o que vou encontrar. Não é todo mundo que sabe lidar com homossexuais, então eu prefiro ficar na rua. Não sei o que vou encontrar lá (no abrigo), é briga toda hora. De repente você está dormindo, e alguém pode tentar abusar de você — diz Carmen.
*FONTE : Bangu ao vivo*



