Famílias morando em praças, embaixo de viadutos e nas calçadas, essa é a realidade das ruas do Rio. São milhares de pessoas sem casa, vivendo de forma improvisada com malas, cadeiras, comida, remédios e papelão para dormir. Viver nas ruas é a realidade de quase 12 mil pessoas no Rio de Janeiro, segundo a Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos.
O morador de rua Saul, de 37 anos, é um entre esses milhares. Carioca, ele e a mulher sobrevivem catando latinhas o dia todo. Com isso, garante R$ 50 para ter o que comer.
“Não investem dinheiro em nada com nós da rua. Para eles, nós somos cachorro, lixo. Eles dão mais valor a um cachorro do que nós, que somos ser humano. Com prefeitura, nós estamos mortos. O dinheiro mesmo que é para investir na população de rua, cadê? Um lugar para nós trabalhar, uma fábrica de vassoura”, reclama o morador de rua.
E o preconceito é uma da maiores dificuldades que eles encontram. “Nem todos que estão na rua porque querem, não. Está porque tem um problema. E nem todos que estão na rua são mal. Nem todos são ladrões. A gente quer só viver. Nós temos direito. O mundo, Deus criou para todos. rico, pobre. Para todos”, disse Saul.
Assim como Saul, boa parte dos moradores de rua reclama da ausência do poder público. Lúcio Pessanha tem 25 anos. Desde os 23 ele está nas ruas, por causa de problemas com a família. Tentou morar em um abrigo da prefeitura.
“O abrigo é um depósito de gente, que eles acham que vão resolver alguma coisa, mas não resolve nada. Prioriza documento, mas pressiona para ir embora logo. Não tem curso, não existe reintegração social. O que eles falam, lá no cartaz, é tudo mentira. Tem um prazo de nove meses, entendeu? Tem um prazo. Vou morar na rua de novo. Eles mesmo falam, da boca deles, que vão mandar nós para rua de novo. Queria trabalhar, ter um emprego, não sei. Alguma coisa para ocupar a mente, mas não tem nada. Você fica parado o dia inteiro”, contou Pessanha.
Dados da Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos mostram que quase 90% das pessoas que vivem nas ruas são homens. Do total de quase 12 mil moradores, 68% tem entre 30 e 59 anos. Quase 11% têm entre 25 e 29 anos. E quase 10% são idosos.
Durante a madrugada, é fácil encontrar dezenas de pessoas dormindo nas ruas. Geralmente, em grupos grandes. De uma certa forma, em busca de proteção. O Bom Dia Rio circulou por alguns pontos da cidade. Na Praça do Lido, em Copacabana. No Centro, bem em frente à Defensoria Pública do estado. E até na entrada da emergência do Hospital Municipal Souza Aguiar.
Metade das pessoas em situação de rua na cidade é de outros estados, de acordo com um levantamento da prefeitura. Muita gente que sonhava melhorar de vida, com estudo ou trabalho, mas não conseguiu. A lei não permite que quem está nas ruas seja levado a força para os abrigos. E, pelos relatos de muitas pessoas boa parte não quer ir para esses locais.
O secretário de Assistência Social e Direitos Humanos Pedro Fernandes diz que assumiu a pasta há um mês e encontrou um quadro lamentável de infestação de insetos nos abrigos, não havia roupas de cama ou chuveiro quente e os banheiros estavam entupidos. Mas que está melhorando os abrigos para dar condições de habitabilidade. Ele destacou que já abriu quatro abrigos, os Casa Viva Penha, Del Castilho Botafogo e Bangu, que abre nesta semana.
“Até o fim do mês vamos abrir um abrigo em Bonsucesso para usuários de crack, onde essas pessoas possam ficar abrigadas, guardar seus pertences e não ficar mais expostos no Avenida Brasil, que é um risco para eles e para os motoristas também. Vai ser um centro de suporte. Nosso papel é oferecer um local digno para que eles deixem de dormir na rua “, disse o secretário observando que o tratamento cabe à Secretaria de Saúde.
O secretário disse ainda que está abrindo, ainda em novembro 400 vagas na Central do Brasil, para acolher principalmente os moradores da Zona Sul e do Centro.
FONTE: G1