Na primeira vez em que o fotógrafo alemão Peter Bauza esteve no conjunto de prédios inacabados em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, foi recebido com desconfiança e estranhamento pelos moradores. “As pessoas achavam que eu queria apenas passar algumas horas lá e fazer uma reportagem que pudesse vender depois”, diz. “Expliquei que gostaria de mostrar suas vidas, seus desafios diários, suas alegrias e dores, e não só a miséria, porque além da miséria há alegria.”
Depois de negociar com líderes comunitários e milicianos (o crime organizado não perdoa), Bauza obteve autorização para ter acesso à ocupação. Passou dez meses no Copacabana Palace, referência irônica ao mítico hotel símbolo histórico do luxo no Rio. Surgido há 30 anos, com o abandono da obra pela construtora responsável pelo empreendimento, o que era para ser um condomínio de classe média acabou virando a única alternativa de moradia para 300 famílias pobres. Com paredes esburacadas como se tivessem sido atingidas por bombas ou tiros, janelas tampadas apenas com panos ou pedaços improvisados de madeira, vãos de elevador sem proteção, ruas esburacadas com esgoto a céu aberto e cheias de entulho, ligações de luz clandestinas e animais de todo tipo, o Copacabana Palace de Campo Grande faz lembrar os prédios de Aleppo, na Síria, uma cidade destruída pela guerra. Em comum, além da precariedade de onde vivem, os moradores dos dois locais tomaram para si a tarefa de sobreviver em lugares abandonados, sem nada, por absoluta falta de uma opção decente.
Ao recusar o caminho fácil da busca pelo exótico e pitoresco e preferir o desafio de mostrar a cultura e a identidade das pessoas, Bauza produziu um trabalho consistente e original. Suas fotos evitam os estereótipos de miséria e abandono para nos lembrar que essas pessoas têm uma vida, experiências e histórias, às vezes bonitas, às vezes dolorosas, mas sempre verdadeiras. Como diz o fotógrafo, “a linha entre a vida e a morte é frágil ali e a transitoriedade está visivelmente próxima. Seja na morte do cavalo de um vizinho ou de um bebê de 3 meses, é claro para mim que aquele lugar é onde os destinos das pessoas, sonhos, pesadelos, anseios, as esperanças e descobertas parecem repetir-se novamente”.