Suspeito de uma série de homicídios e apontado pela polícia como chefe da primeira milícia do Rio a explorar territórios em parceria com o tráfico de drogas, Jonas Gonçalves da Silva, o Jonas é Nós, está morto. Ele sofreu um infarto na última quinta-feira, em São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos. Ex-vereador de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, Jonas segundo denúncia do Ministério Público estadual (MP), liderava um violento grupo paramilitar atuante em oito bairros da cidade.
O bando, integrado também por policiais, ex-policiais e até por militares da ativa, teria inclusive assassinado cinco testemunhas que colaboraram com as investigações da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco). A especializada foi responsável por identificar a quadrilha, em 2010 .
Segundo a Polícia Civil, a Draco está investigando nomes de possíveis sucessores de Jonas no comando do bando e a continuação da atuação do grupo no município de Duque de Caxias.
Segundo dados disponíveis no site do Tribunal de Justiça, a morte de Jonas foi registrada num cartório de São Pedro da Aldeia. O ex-parlamentar foi denunciado pelo MP, ao lado de outras 33 pessoas, por homicídio, tráfico de armas e formação de quadrilha, entre outros crimes. Ele respondia a pelo menos dois processos de homicídio. Num deles, de acordo com o despacho do juízo da 4ª Vara Criminal de Caxias, Jonas é apontado como mandante do assassinato de Lucas José Antônio.
Uma das pessoas que teriam colaborado com as investigações da Draco, Lucas foi morto por vingança, de acordo com denúncia do MP. O crime ocorreu em novembro, de 2011, um ano após a vítima prestar depoimento na Draco.
Com a morte de Jonas, a pena de ate 30 anos de prisão que o ex-parlamentar estaria sujeito caso fosse condenado, fica automaticamente extinta. De acordo com o delegado Marcus Amim, da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme), que investigou crimes de tráfico de armas praticados por milícias e por facções criminosas, o grupo paramilitar de Jonas foi o primeiro no Rio a buscar uma aliança com uma facção integrada por Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixe ou Peixão.
O traficante está foragido e o Disque-Denúncia (2253-1177) oferece uma recompensa de mil reais por informações que levem até sua prisão. A facção criminosa integrada por Peixão atualmente explora áreas da Praça Seca em parceria com milícias da Zona Oeste e de Jacarepaguá.
— Eles ( milícia ) faziam uma espécie de link, na Região de Caxias, com a facção criminosa do Peixão. Os milicianos ficavam com atividades exploradas pelos paramilitares( venda de gás, de sinal clandestino de TV, taxa de segurança e etc) e no mesmo território a facção ficava com a venda de drogas. Era uma espécie de consórcio. De Caxias, a modalidade acabou se expendido para outras áreas, com a mesma facção criminosa e outras milícias — disse o delegado.
Jonas Gonçalves da Silva chegou a ser preso por duas vezes. A primeira vez ocorreu em dezembro de 2010, na Operação Capa Preta, quando 23 pessoas foram detidas. Na época, ele era vereador, cargo para o qual fora eleito com mais de 7 mil votos, em 2008.
Na ocasião, a investigação da Draco revelou que, entre outros crimes, a milícia vendia armas para traficantes chegava a lucrar R$ 400 mil por mês com o negócio irregular.
Em 2013, uma liminar determinou que Jonas fosse solto até que a sentença transitasse em julgado ( até que todos recursos fossem julgados). Em 2016, o ex-parlamentar voltou a ser preso, quando estava em um hospital de Tanguá. Em maio de 2019, conseguiu um benefício da justiça e ganhou direito a liberdade.
A defesa de Jonas Gonçalves da Silva foi procurada pela reportagem , mas optou por não dar entrevistas. Abaixo, a íntegra da nota da Polícia Cívil sobre a continuação da investigação do grupo que era chefiado por Jonas.
“De acordo com a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), há investigações em andamento que apuraram a ação da organização criminosas no formato de milícia nesta região. As investigações correm sob sigilo.”