Ao ser questionado na manhã deste sábado sobre o fechamento dos hospitais de campanha do Rio, o governador Wilson Witzel (PSC) afirmou que isso deveria ser perguntado ao secretário de Saúde do estado, Alex Bousquet. Witzel deu a declaração durante um evento na Ceasa, em Irajá, na Zona Norte do Rio. Ao chegar na central de abastecimento, o governador foi vaiado por trabalhadores, que também entoaram gritos de “ladrão”, e recebeu poucos aplausos de apoiadores. Os pacientes dos hospitais de campanha começaram a ser transferidos para outras unidades nessa sexta-feira.
— Isso que você tem que perguntar para o secretário de saúde. Tudo que fiz como governador para resolver o problema da pandemia foi pautado na opinião de especialistas. Nossa secretaria de Saúde investiu 12% do orçamento, no ano passado, e o percentual será superado este ano. Se compararmos os investimentos e o que está sendo apurado agora de irregularidade, o número apontado é menor do que a imprensa mostra — disse o governador, ao visitar a Ceasa de Irajá.
Witzel, que está sendo investigado por desvios de verba pública na Saúde e enfrenta um processo de impeachment na Assembleia Legislativa do Rio, afirmou que os hospitais de campanha são problemas da secretaria de Saúde:
— Se eu tiver que tomar medidas para responsabilizar quem tomou decisão errada, vou buscar outros especialistas. Quando fazemos um plano, existe sempre a possibilidade de erro. Fazendo uma avaliação da política de saúde, vislumbro que acertamos muito mais que erramos. E o que foi feito de errado tem que ser corrigido.
O EXTRA procurou a assessoria da secretaria de Saúde, que encaminhou a mesma nota que já havia mandado desde cedo sobre os hospitais de campanha. Nela, a SES esclareceu que “os pacientes foram transferidos, de forma preventiva, para o Hospital Universitário Pedro Ernesto, o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, o Instituto Estadual do Tórax Ary Parreira e o Hospital Municipal Luiz Palmier, tendo em vista que o Iabas notificou sua decisão de interromper o funcionamento dos hospitais a partir deste sábado (18/07). A transferência foi feita de modo seguro e por decisão médica, solicitada através da Central Estadual de Regulação. As unidades para onde os pacientes foram transferidos são bem aparelhadas e dotadas de leitos especialmente preparados para atender pacientes de Covid-19.”
Ainda na nota, a SES frisou que “os hospitais de campanha do Maracanã e de São Gonçalo não fecharam, como afirmou nesta sexta-feira o secretário Alex Bousquet. Neste momento, há um paciente internado no hospital de campanha de São Gonçalo. As duas unidades estão sob administração da Fundação Saúde. Os hospitais seguem ativos e em condições de receber pacientes se necessário, como apoio e contingência aos leitos regulares da rede hospitalar. Os equipamentos utilizados nos hospitais de campanha do Maracanã e São Gonçalo são bens do Governo do Estado e permanecem nas unidades.” (Veja abaixo nota da SES na íntegra).
DISCURSO INFLAMADO NA CEASA
Ao discursar para os comerciantes e apoiadores, o governador se exaltou ao se defender de acusações que vem recebendo:
— Eu não tenho apego a bens materiais. Pelo amor de Deus, entendam isso. Eu não tenho apego a carro, nem carro eu tenho. Não tenho apego a avião, jato. Não tenho apego a dinheiro. O único tesouro que me interessa e eu quero levar para o meu túmulo, deixar para as próximas gerações, ninguém vai tirar de mim. São princípios que meu pai me deu, minha mãe me deu e minha igreja me deu: a honestidade.
Witzel esteve na Ceasa para assinar um termo de compromisso garantindo que a central não será transferida de Irajá para Duque de Caxias. De acordo com o governador, a polêmica sobre a transferência do Ceasa Grande Rio para Caxias se encerra hoje. Ele afirmou que o projeto de uma nova central de abastecimento na Baixada Fluminense fica para o futuro.
— Bem no início do governo recebemos diversos projetos, de toda ordem. O projeto da Ceasa em Caxias é para o futuro. Esta Ceasa daqui não sai, é o povo que pede. Dentro das políticas públicas que planejamos para esse ano, tínhamos a previsão de investimentos na ordem de R$ 100 milhões para turismo e agricultura, que não foram executados por conta do isolamento social. Para 2021, como nosso isolamento foi bem feito e o Rio está entre os estados com declínio de contágio, esses recursos poderão ser aplicados, e teremos uma volta da economia pujante. Nossa previsão é de aumento da produção. Não haverá necessidade de tirar de um lugar para outro. Teremos que ter mais postos de abastecimento. Durante muito tempo a agricultura foi considerada um patinho feio no estado.
Há 46 anos funcionando em Irajá, o principal entreposto fluminense corria risco de trocar de endereço, por sugestão do prefeito de Caxias, Washington Reis, que quer levar o Ceasa para a cidade da Baixada. Com uma circulação de mil caminhões, dez mil carros e cerca de 60 mil mil pessoas por dia, o centro atacadista comercializou R$ 4,5 bilhões em hortifrutigranjeiros e cereais, em 2019.
O argumento de Washington Reis é que Duque Caxias está melhor situada, para receber as mercadorias e escoar a produção. A gestão do novo espaço sairia do governo estadual e passaria para uma concessionária. Mas comerciantes do Ceasa, produtores e moradores de comunidades do entorno são contrários a transferência. Os dirigentes da Associação Comercial dos Produtores e Usuários da Ceasa explicaram isso ao governador. Eles contam com apoio de políticos como os deputados estaduais Val Ceasa (Patriota) e Dionísio Lins (PP). Val tem um boxe no mercado e acompanhou a visita de Witzel, interessado no momento em cada voto favorável na Alerj.
NOTA NA ÍNTEGRA SOBRE FECHAMENTO DOS HOSPITAIS DE CAMPANHA
“A Secretaria de Estado de Saúde (SES) esclarece que os pacientes foram transferidos, de forma preventiva, para o Hospital Universitário Pedro Ernesto, o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, o Instituto Estadual do Tórax Ary Parreira e o Hospital Municipal Luiz Palmier, tendo em vista que o Iabas notificou sua decisão de interromper o funcionamento dos hospitais a partir deste sábado (18/07). A transferência foi feita de modo seguro e por decisão médica, solicitada através da Central Estadual de Regulação. As unidades para onde os pacientes foram transferidos são bem aparelhadas e dotadas de leitos especialmente preparados para atender pacientes de Covid-19.
A SES frisa que os hospitais de campanha do Maracanã e de São Gonçalo não fecharam, como afirmou nesta sexta-feira o secretário Alex Bousquet. Neste momento, há um paciente internado no hospital de campanha de São Gonçalo. As duas unidades estão sob administração da Fundação Saúde. Os hospitais seguem ativos e em condições de receber pacientes se necessário, como apoio e contingência aos leitos regulares da rede hospitalar.
Os equipamentos utilizados nos hospitais de campanha do Maracanã e São Gonçalo são bens do Governo do Estado e permanecem nas unidades.
Somente em unidades de campanha, a SES tem à disposição os hospitais de São Gonçalo, Maracanã, Nova Iguaçu, Duque de Caxias e Nova Friburgo. A SES esclarece que os três últimos foram concluídos, sendo mantidos como leitos de retaguarda. Ou seja, caso ocorra uma segunda onda de Covid-19 no estado, eles serão utilizados para garantir vagas disponíveis para o atendimento à população. Também ficará na retaguarda o hospital modular de Nova Iguaçu. Ao todo, o estado terá 900 leitos de retaguarda nestas unidades para atendimento de pacientes em eventual segunda onda de coronavírus.
Cada um desses três hospitais de campanha ficará com 20 leitos prontos para emprego imediato caso seja necessário, inclusive com os profissionais de saúde preparados. Essa medida visa garantir a agilidade na eventual abertura de novas vagas. Os demais leitos também estarão concluídos e em condição para serem abertos rapidamente, caso haja necessidade no futuro.
Os dados da Covid-19 no estado estão sendo analisados diariamente, para que seja possível estabelecer estratégias de abertura gradual ou de fechamento da economia. Em caso de aumento do uso de leitos de Covid-19, o Governo do Estado voltará a contar imediatamente com essas unidades.”