A Gardênia Azul, comunidade localizada na Zona Oeste do Rio de Janeiro, tornou-se cenário de uma nova onda de violência e intimidação, com traficantes impondo suas próprias “leis” aos moradores. Relatos apontam que criminosos têm expulsado famílias inteiras que não conseguem comprovar a posse oficial dos imóveis onde vivem. A denúncia, divulgada nesta segunda-feira (13) pelo portal G1, revela a complexidade e a gravidade da situação enfrentada pela população local.
Expulsões e Violência
De acordo com testemunhos de moradores, os traficantes exigem que os residentes apresentem documentos de propriedade registrados em cartório para comprovar que são os donos legítimos das casas. Aqueles que não possuem a documentação necessária são ameaçados de expulsão, e, em muitos casos, o processo é acompanhado de violência física e psicológica.
“As famílias vivem em constante tensão. Não sabemos quem será o próximo alvo”, revelou um morador sob condição de anonimato. Ele conta que as ordens são dadas pessoalmente pelos criminosos, que aparecem em grupos armados e dão prazos curtos para que a pessoa deixe o imóvel. “Quem não obedece, paga caro”, completou.
Taxas e Extorsão
Além das expulsões, os traficantes também têm adotado práticas semelhantes às de milícias, impondo taxas obrigatórias para diversos serviços clandestinos, como fornecimento de energia elétrica, TV a cabo e internet. Em alguns casos, esses serviços são a única opção para os moradores, já que o acesso às redes oficiais de fornecimento é precário ou inexistente.
Outro ponto de tensão é a cobrança por estacionamento. Moradores sem garagem própria são obrigados a pagar mensalidades que podem chegar a R$ 250 para deixar seus veículos em áreas controladas pelos traficantes.
“É como se estivéssemos vivendo sob duas ditaduras ao mesmo tempo: o tráfico e a milícia. Eles controlam tudo e, para piorar, estão em guerra pelo domínio da área”, explicou outra moradora, que também preferiu não se identificar.
Conflito de Facções
A situação na Gardênia Azul tem se agravado em meio ao acirramento dos conflitos entre traficantes e milicianos, que disputam o controle da região. Essa guerra pelo território intensifica o clima de insegurança para os moradores, que muitas vezes ficam no meio do fogo cruzado.
A ameaça de expulsão afeta, principalmente, aqueles que vivem há muitos anos na comunidade, mas que nunca tiveram condições de regularizar a posse de suas casas. A ausência de políticas públicas eficazes para regularização fundiária contribui para o agravamento do problema, deixando os moradores ainda mais vulneráveis à ação de criminosos.
Investigação e Resposta das Autoridades
Enquanto a Polícia Civil investiga as denúncias, a Polícia Militar afirmou, em nota, não ter recebido informações específicas sobre essas ações na Gardênia Azul. No entanto, moradores contestam a declaração, alegando que têm procurado as autoridades repetidamente para relatar os abusos, mas raramente obtêm respostas ou medidas concretas.
“Já fizemos várias denúncias, mas nada muda. Parece que somos invisíveis para o poder público”, desabafou um líder comunitário.
Especialistas em segurança pública apontam que o controle territorial por facções criminosas é um problema estrutural em comunidades do Rio de Janeiro, agravado pela ausência de políticas sociais e a falta de integração entre os órgãos de segurança. “O Estado precisa estar presente de forma efetiva, não apenas com repressão, mas com projetos que promovam cidadania e garantam direitos básicos, como moradia e segurança”, afirmou o sociólogo Antônio Freitas.
Repercussão e Medo do Futuro
A denúncia gerou grande repercussão nas redes sociais e reforçou o debate sobre a vulnerabilidade das comunidades da Zona Oeste, que convivem diariamente com o domínio paralelo do tráfico e das milícias. Para muitos, a Gardênia Azul é apenas um reflexo do que ocorre em outras áreas periféricas da cidade, onde a ausência do poder público deixa a população à mercê de facções criminosas.
Enquanto isso, os moradores continuam vivendo em estado de alerta. “A gente não sabe mais o que esperar. Só queremos viver em paz e ter a segurança de que não seremos expulsos das nossas próprias casas”, concluiu uma residente.
A situação na Gardênia Azul expõe não apenas a fragilidade do controle estatal em regiões dominadas por facções criminosas, mas também a necessidade urgente de políticas públicas voltadas para a regularização fundiária e a proteção dos direitos básicos dos moradores dessas comunidades.
Sem uma resposta firme e integrada das autoridades, o ciclo de violência e opressão na Gardênia Azul tende a se perpetuar, deixando milhares de famílias reféns do medo e da insegurança.