No último dia 17 de julho de 2025, entre 20h e 21h, um grave acidente mudou a vida do motoboy Felipe Patrocínio, de 34 anos, morador de Muriqui há cerca de três meses, e de toda a sua família. O episódio ocorreu na entrada de Itacuruçá, quando Felipe, que vinha de Campo Grande em direção à nova residência, pilotava sua motocicleta na pista da direita, dentro do limite de velocidade de aproximadamente 50 km/h.
De acordo com informações da CCR, concessionária responsável pelo trecho, um carro em altíssima velocidade — registrado a 133 km/h — perdeu o controle, capotou e atingiu violentamente a traseira da moto conduzida por Felipe. O impacto foi devastador: o motorista do veículo morreu na hora e Felipe foi arremessado ao solo, ficando inconsciente por alguns instantes.
O socorro imediato e a fé no impossível
O acidente aconteceu em frente a um condomínio da região. Uma família que estava chegando em casa correu para ajudar. Uma jovem se aproximou de Felipe, que estava caído de bruços no chão. No primeiro momento, acreditou que ele estivesse sem vida e iniciou uma oração por sua alma. Para surpresa de todos, Felipe respondeu — fraco, mas consciente. Ele conseguiu informar seu endereço, já que seu celular havia sido destruído no acidente.
Enquanto isso, em casa, Bruna Martins, esposa de Felipe, aguardava a sua chegada junto da filha do casal, Sophia, de 7 anos. Estranhando a demora, chegou a imaginar que ele tivesse parado no caminho, como fazia algumas vezes. Até que ouviu alguém chamar pelo marido da rua. Ao abrir a janela, deparou-se com uma moça e três rapazes. A pergunta foi direta e dolorosa:
— Você é a esposa do Felipe?
A partir desse instante, Bruna descreve que seu “pesadelo começou”. Levado ao Hospital de Mangaratiba, Felipe foi submetido a exames de emergência. A cena descrita pela esposa era de completo desespero: mais de 50 pontos internos na boca, cortes profundos na testa, sobrancelha, queixo, mãos e joelhos, além de um abdômen em carne viva. Apesar da gravidade, nenhum dente foi quebrado.
Dias de internação e luta pela vida
Após três dias na emergência, Felipe foi transferido para a clínica ortopédica, onde passou 17 dias internado, sendo 13 deles acamado com sonda. Somente após uma semana conseguiu dar os primeiros passos novamente. O diagnóstico revelou fraturas múltiplas nos dois ombros: três em cada lado.
A família enfrentou ainda uma longa espera de 20 dias por vaga no INTO (Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia), no Rio de Janeiro, referência em cirurgias complexas. Finalmente, no dia 5 de agosto, Felipe foi transferido, após quase 12 horas de espera para a internação.
No INTO, novos exames confirmaram a gravidade: o ombro esquerdo poderia ser recuperado, mas o ombro direito exigiria a implantação de uma prótese. A primeira cirurgia foi realizada em 11 de agosto, e a segunda, no lado direito, ocorreu dois dias depois, em 13 de agosto.
Segundo Bruna, foram dias de muito sofrimento.
— “Tudo isso por causa de um inconsequente. A revolta é enorme, mas seguimos firmes. Para Deus nada é impossível, mas a realidade até agora é que ele pode perder parte dos movimentos dos braços”, desabafou.
No dia 16 de agosto, depois de quase um mês de internação, Felipe recebeu alta e pôde voltar para casa. O próximo retorno ao INTO está marcado para 26 de agosto, quando será feita uma nova avaliação médica.
A difícil rotina em casa
De volta à residência em Muriqui, Felipe está com ambos os ombros imobilizados, dependendo completamente da esposa para atividades básicas como comer, beber água, tomar banho e até ir ao banheiro. A pequena Sophia, mesmo tão nova, tem ajudado nos cuidados com o pai.
O prognóstico médico é duro: a recuperação exigirá de seis meses a um ano de fisioterapia intensa. Enquanto isso, Felipe, que era motoboy autônomo em aplicativos como iFood, Uber e 99, está impossibilitado de trabalhar.
A família, que já vivia de forma simples, enfrenta agora enormes dificuldades financeiras. O aluguel, a conta de luz e até a internet estão atrasados. Além das despesas básicas, há ainda custos com medicamentos e alimentação especial para Felipe.
— “Estamos correndo atrás do INSS e do DPVAT, mas sabemos que tudo é um processo demorado. Infelizmente, a fome e as contas não esperam”, contou Bruna.
Apoio da família, amigos e uma vaquinha solidária
No início, colegas motoboys organizaram uma rede de apoio e arrecadaram algum valor para ajudar nas primeiras necessidades. O pai de Felipe, taxista autônomo no Mercado Guanabara, em Campo Grande, também tem contribuído como pode, mas acumula dívidas por conta da situação emergencial.
Diante do cenário, Bruna decidiu criar uma vaquinha online para arrecadar fundos e garantir a sobrevivência da família durante a longa recuperação do marido.
— “Foi até indicação de um amigo dele. Vergonha é roubar. Pedir ajuda em um momento como esse é questão de sobrevivência. Pouco com Deus é muito. Só temos a agradecer a quem puder contribuir”, disse emocionada.
A vaquinha está disponível pelo link: Vakinha Felipe Patrocínio.
Além disso, doações podem ser feitas via Pix para CPF 121.965.817-04 (Bruna Martins) ou pelo PicPay/Inter (celular 21 98219-3585 em nome de Felipe Patrocínio).
Fé e esperança
Apesar de toda dor e da rotina difícil, Bruna mantém a fé inabalável na recuperação do marido.
— “Ele sobreviveu a um acidente que poderia ter acabado com sua vida. Creio que Deus tem um propósito e que ainda veremos a vitória. Enquanto isso, seguimos unidos, eu, ele e nossa filha, um ajudando o outro.”
O caso de Felipe serve de alerta para os perigos da imprudência nas estradas e, ao mesmo tempo, como exemplo de luta, fé e solidariedade. Hoje, cada gesto de ajuda representa não apenas o alívio financeiro, mas também combustível para que essa família consiga atravessar o período mais difícil de suas vidas.