Na noite de segunda-feira, 9 de junho de 2025, imagens fortes tomaram as redes sociais e os noticiários norte-americanos: soldados da Guarda Nacional dormindo no chão, sem colchonetes, alimentação adequada ou estrutura mínima. Deitados lado a lado, amontoados em um ginásio improvisado, os militares foram enviados a Los Angeles sob ordens diretas do presidente Donald Trump — sem qualquer solicitação ou consentimento do governo da Califórnia. A decisão gerou um impasse institucional que agora se transforma em uma batalha judicial entre o estado e a Casa Branca.
O governador da Califórnia, Gavin Newsom, foi quem denunciou o episódio, classificando a mobilização como “irrespeitosa com as tropas”. Em sua declaração pública, Newsom acusou a administração federal de agir de maneira irresponsável e ilegal ao enviar aproximadamente 2.000 soldados para conter os protestos que ocorriam em Los Angeles — sem combustível, sem comida, sem água potável e sem lugar digno para dormir.
“A Califórnia não foi consultada, e os soldados foram deixados em situação degradante. Isso é uma afronta não só à nossa autoridade estadual, mas também à dignidade de homens e mulheres que servem ao país”, disse o governador em pronunciamento transmitido ao vivo.
O contexto por trás do envio das tropas
A operação federal foi uma resposta aos crescentes protestos contra políticas de imigração e contra operações do ICE (a agência de imigração dos EUA), que vinham ganhando força em diversas regiões da Califórnia. Naquele fim de semana, manifestantes tentaram invadir prédios federais em Los Angeles, o que, segundo o governo Trump, justificaria uma intervenção emergencial para proteger bens públicos e manter a ordem.
No entanto, a Constituição dos Estados Unidos estabelece limites claros sobre o uso de tropas federais em estados sem a autorização de seus governadores. Desde a década de 1960, não havia registro de uma intervenção militar federal em solo californiano feita dessa forma — ou seja, sem o pedido explícito ou consentimento do executivo estadual.
Especialistas em direito constitucional apontam que a medida pode ter violado a cláusula da soberania estadual, abrindo margem para que o estado questione a legalidade da ação em tribunais federais.
A ação judicial e seus desdobramentos
Em resposta à ação unilateral do presidente, Gavin Newsom protocolou uma ação judicial contra a administração Trump. O processo alega que o envio das tropas representou uma violação direta da soberania da Califórnia, além de expor militares a condições logísticas degradantes, ferindo padrões mínimos de bem-estar e dignidade humana.
A ação também exige uma auditoria federal sobre os gastos da operação e uma revisão das diretrizes sobre intervenções militares internas. O gabinete do governador afirmou que pretende mobilizar apoio de outros estados que possam se sentir ameaçados por iniciativas semelhantes.
Até o momento, a Casa Branca não emitiu resposta formal ao processo, mas fontes ligadas ao governo federal afirmam que o presidente não pretende recuar da decisão, alegando “necessidade urgente de preservar a ordem pública”.
A verdade por trás da polêmica
Embora a presença dos soldados tenha gerado controvérsia, a denúncia de Gavin Newsom é verdadeira em suas principais alegações. Os registros fotográficos e relatos de militares confirmam que a operação foi realizada de forma improvisada e sem planejamento logístico adequado.
Esse episódio evidencia, mais uma vez, o embate político cada vez mais intenso entre a Casa Branca e governos estaduais, especialmente no que se refere a temas sensíveis como imigração, segurança pública e soberania federativa. O desfecho dessa disputa judicial pode, inclusive, criar precedentes importantes para futuras intervenções militares internas nos Estados Unidos.
Seja qual for o resultado, a imagem dos soldados dormindo no chão em Los Angeles ficará marcada como símbolo de um país em conflito não apenas com seus cidadãos, mas também com suas próprias instituições.