Chegou ao fim a trégua entre o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), as duas maiores facções criminosas do Brasil. A ruptura do acordo, que por anos reduziu confrontos diretos entre os grupos, reacende o temor de uma nova onda de violência nas ruas e dentro dos presídios brasileiros.
De acordo com fontes ligadas à segurança pública e ao sistema penitenciário, o fim da aliança se deu por uma série de fatores estratégicos. O principal motivo teria sido a resistência de ambos os lados em abrir mão dos territórios que controlam atualmente. O avanço das operações de cada facção em regiões dominadas pela outra gerou uma tensão insustentável, culminando na quebra da trégua que, até então, era mantida de forma instável, mas funcional.
Outro fator decisivo foi a diferença nos perfis organizacionais das facções. O PCC, com uma estrutura mais hierárquica e disciplina interna rígida, costuma adotar uma lógica quase empresarial, com foco em expansão e controle por meio de alianças e negociações. Já o Comando Vermelho é conhecido por ser mais descentralizado, com núcleos locais autônomos e menos coesão estratégica, o que dificulta acordos duradouros e facilita rupturas.
Durante o período de trégua, os dois grupos chegaram a atuar juntos em determinadas regiões, principalmente no tráfico de drogas e outras atividades ilícitas. Porém, com o aumento da disputa por áreas lucrativas — como fronteiras de tráfico e comunidades em grandes centros urbanos —, os atritos se intensificaram. Relatos de confrontos armados e execuções entre membros das duas facções já começaram a surgir em algumas cidades.
Autoridades de segurança temem que o fim do acordo leve a uma nova guerra dentro dos presídios e nas ruas, com aumento de mortes violentas, confrontos armados e atentados contra rivais e até contra forças policiais. Estados como Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Pará são considerados áreas de risco elevado para a retomada de confrontos diretos.
A ruptura também representa um desafio para o sistema penitenciário brasileiro, que historicamente não consegue isolar de forma eficaz os líderes das facções. Com a quebra da trégua, a tendência é de que o controle das unidades prisionais fique ainda mais instável, favorecendo rebeliões e retaliações internas.
Enquanto o país acompanha com preocupação os desdobramentos dessa nova fase do crime organizado, especialistas alertam que o combate efetivo às facções exige mais do que força policial: é preciso investimento em inteligência, controle das fronteiras, reformas no sistema prisional e políticas públicas que evitem o recrutamento de jovens pela criminalidade.
O fim da trégua entre CV e PCC não é apenas uma disputa entre criminosos — é um alerta para o Estado brasileiro e para a sociedade. A guerra voltou, e com ela, o risco de um novo ciclo de violência.