A disputa sangrenta entre facções rivais da Baixada Fluminense ganhou um novo capítulo na tarde deste domingo (15). Integrantes da Tropa do Flamengo e do bando conhecido como Peixão, pertencentes ao Terceiro Comando Puro (TCP), localizaram um “acampamento” improvisado do Comando Vermelho (CV) escondido na área de mata da favela do Danon, em Nova Iguaçu, e atearam fogo em tudo que encontraram. De acordo com relatos de moradores, as chamas podiam ser vistas a centenas de metros de distância e o som de rajadas ecoou pelos becos do bairro.
Segundo fontes da Polícia Militar, o local funcionava como base logística do CV para abastecer pontos de venda de drogas, armazenar armamento pesado e abrigar olheiros. Barracas de lona, colchões, alimentos, roupas camufladas e munições foram consumidos pelo incêndio provocado pelos rivais. Não há informações oficiais sobre feridos, mas há relatos de fuga às pressas por parte de integrantes do CV quando os homens do TCP avançaram pela trilha de acesso.
A ofensiva elevou ainda mais a tensão na região, onde as duas facções travam uma guerra pelo controle do Danon — território estratégico, cortado pela Avenida Abílio Augusto Távora (antiga Estrada de Madureira) e próximo à UPA de Cabuçu, importante rota de entrada e saída para cargas ilícitas. Desde o início do ano, tiroteios e toques de recolher se tornaram rotina, obrigando moradores a viver sob risco constante. Escolas cancelam aulas, postos de saúde operam em horário reduzido e o comércio fecha as portas sempre que circulam áudios de “paralisação” nos grupos de WhatsApp.
Vídeos que circulam nas redes sociais mostram homens encapuzados, exibindo fuzis, comemorando a ação e gritando frases de domínio da “tropa do Fla”. Em um dos registros, é possível ouvir: “Aqui é TCP, aqui é Flamengo! O CV não volta mais!”. A autenticidade das imagens ainda está sob análise da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), que abriu inquérito para apurar os crimes de incêndio, associação para o tráfico e porte ilegal de armas de uso restrito.
Em nota, a Secretaria de Estado de Polícia Militar afirmou que equipes do 20º BPM (Mesquita) intensificaram o patrulhamento na comunidade e contam com o apoio de blindados para avançar em áreas de mata fechada. A corporação alega, porém, que o terreno acidentado e a densa vegetação dificultam a progressão e facilitam emboscadas.
Já especialistas em segurança pública alertam que a queima de acampamentos rivais, prática frequente em conflitos de facções, tem efeito simbólico de “marcar território” e costuma ser sucedida por ataques de retaliação. Moradores, amedrontados, pedem presença permanente das forças de segurança e políticas sociais que ataquem a raiz do problema: a falta de oportunidades que alimenta o recrutamento de jovens pelos grupos criminosos.
Enquanto isso, a população segue refém de uma guerra que transforma a mata do Danon em linha de fogo — um lembrete brutal de que, ali, a fronteira entre o medo e a sobrevivência pode pegar fogo a qualquer instante.