Um episódio chocante abalou Porto Príncipe, capital do Haiti, e ganhou repercussão nacional nesta semana: uma mulher foi presa após confessar ter envenenado 40 integrantes da facção criminosa “Viv Ansanm” usando empanadas caseiras, conhecidas no país como paté. A história, revelada pelo portal haitiano Kominotek, expôs o desespero vivido pela população em meio à crise de segurança que domina o país.
Segundo a reportagem, a mulher era uma comerciante bastante conhecida na comunidade local. Ela vendia alimentos com frequência, inclusive para membros da facção, o que fez com que sua presença não levantasse nenhuma suspeita. Aproveitando a relação de confiança já estabelecida, ela distribuiu as empanadas contaminadas com óleo de oruga — um pesticida agrícola altamente tóxico e letal quando ingerido.
Os efeitos foram rápidos e fatais. Ao todo, 40 pessoas ligadas à organização criminosa morreram após consumirem os alimentos. A motivação por trás do ato ainda está sendo investigada pelas autoridades, mas muitos haitianos interpretam a ação como uma resposta desesperada e solitária ao terror imposto pelas gangues.
O Haiti vive hoje um dos piores colapsos sociais e institucionais de sua história recente. Estima-se que cerca de 80% da capital esteja sob controle de facções armadas, que impõem medo, cobram extorsões e travam guerras territoriais diárias. A violência tem provocado o deslocamento forçado de milhares de pessoas e dificultado até mesmo o acesso a alimentos, água e serviços básicos.
A ousadia da mulher gerou reações divididas entre a população: enquanto alguns a consideram uma criminosa, outros a veem como símbolo da resistência civil diante do abandono do Estado. O caso também reacendeu o debate sobre a atuação das forças internacionais no país, que tentam conter a escalada de violência, mas têm esbarrado em desafios logísticos e políticos.
A identidade da acusada foi mantida em sigilo por questões de segurança, mas sua história já circula como uma espécie de lenda urbana contemporânea. Em um país onde a impunidade reina e o medo dita as regras, um gesto extremo como esse revela o limite da paciência de uma população encurralada por facções e negligenciada pelas autoridades.
O episódio, além de trágico, serve como retrato da desesperança que paira sobre o Haiti — e da coragem, mesmo que mortal, de quem não tem mais nada a perder.