Cristina* acordou certa madrugada ao som do choro apavorado da filha, Maria*, de 14 anos. Afagada, a menina confessou: tinha enviado nudes para um colega. Ele estava pedindo mais fotos íntimas – do contrário, colocaria as que tinha na rede, para serem vistas por todos de sua escola. Rafael*, 18 anos, conheceu uma misteriosa garota por meio de um aplicativo de aprendizado de inglês e gastou com ela horas de paquera em videoconferência. Logo descobriu que a menina, na verdade, era um homem crescido – e exigia o pagamento de 800 dólares para não tornar públicas as gravações íntimas.
Os dois casos – reais e cada vez mais comuns – expõem um crime ainda pouco conhecido: a “sextorsão”. Junção das palavras “sexo” e “extorsão”, o termo refere-se a ocasiões nas quais um criminoso ameaça divulgar imagens íntimas – que podem ou não existir – para obrigar a vítima a fazer algo contra sua vontade (como, por exemplo, chantageá-la a pagar somas em dinheiro, enviar mais fotos ou até fazer atos sexuais contra sua vontade).
A “sextorsão” tem se tornado cada vez mais comum, segundo dados da SaferNet Brasil, uma ONG dedicada a defender os direitos humanos na internet. Em 2007, por exemplo, a organização registrou apenas cinco casos. Em 2017, o número saltou para 289 – considerando-se ainda que apenas uma em cada três vítimas conta a alguém sobre o crime! Nesse ritmo, podemos ter mais de 16 mil indivíduos vitimados até o final de 2027. Atenção: esse tipo de chantagem é mais comum entre meninas e mulheres – atualmente, 69% dos alvos.
Nesta semana, aproveitando o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, a SaferNet montou uma campanha para dizer: “Se isso aconteceu com você, não é sua culpa!”. “As vítimas têm muito medo de contar por acharem que serão culpabilizadas e julgadas, principalmente pelos adultos”, diz Rodrigo Nejm, diretor de Educação da SaferNet Brasil.
Proteger os filhos dessa situação é um desafio. É preciso conversar abertamente sobre como eles lidam com a internet, monitorar o uso do celular se forem crianças pequenas – ou até questionar-se: será que não entreguei um smartphone a meus filhos cedo demais? Mas, principalmente, o pessoal da SaferNet aconselha você a manter uma postura aberta e acolhedora. Assim, sem julgamento, seu filho ou filha saberá que pode contar qualquer coisa para você.
Para discutir sobre esse tema nas redes, os organizadores sugerem o uso das hashtags #NãoÉSuaCulpa, #TamoJunto e #PareSextorsão. Se você ou seus filhos se encontram nessa situação, a SaferNet criou um canal de ajuda aqui, pelo qual vocês podem ser atendidos anonimamente por um psicólogo especializado. Mais informações sobre o assunto estão disponíveis no site da campanha, mas o DisseMina adianta aqui algumas dicas do que fazer se você for vítima desse crime.
* Nomes alterados a fim de se preservar a identidade das vítimas