A FAZENDA DO VIEGAS – por André Luis Mansur
Hoje totalmente degradado e abandonado, o conjunto formado pela sede da Fazenda do Viegas e a Capela de Nossa Senhora da Lapa, na rua Marmiari, no bairro de Senador Camará, são um importante monumento histórico da arquitetura colonial rural do Rio de Janeiro. A fazenda, que mais tarde receberia o nome de Engenho da Lapa, foi fundada por Manuel de Souza Viegas no final do século XVII e a capela construída por volta de 1725.
Durante todo o século XVIII a fazenda foi uma importante produtora de cana de açúcar e aguardente, até que na virada para o século XIX começou a se destacar na produção de café. Os registros indicam que em 1777 ela pertencia a Manuel Freire Ribeiro e em 1797 a Francisco Garcia Amaral. Em 1855 ela foi propriedade de Joaquim Cardoso dos Santos, dos mesmos Cardoso dos Santos que durante décadas foram donos da Fazenda do Cabuçu, em Campo Grande, por onde passa hoje a Estrada do Cabuçu, ligando o centro do bairro à localidade do Rio da Prata, onde também existia uma fazenda da mesma família. “No século XVIII, a fazenda, cultivando cana-de-açúcar e produzindo derivados em seu engenho, foi considerada a segunda em importância na freguesia de Campo Grande. No início do século XIX, com o advento da cafeicultura, a fazenda, com seus campos de cultivo se estendendo até o Lameirão e a Serra dos Viegas, destacou-se como uma das maiores e mais produtivas”. (Hinterlândia Carioca, de Nei Lopes)
A testada (parte da frente da fazenda) fazia limites com a Fazenda dos Coqueiros, dos herdeiros de Manuel Antunes Suzano (grande proprietário de terras na região) e com a Fazenda do Retiro. Aos fundos, a Serra de Bangu, onde ficavam outras propriedades dos Suzano. Com a fragmentação das fazendas, no final do século XIX, dando origem a diversos bairros na zona rural carioca, a antiga Fazenda do Viegas, já nas mãos da Família Paiva, foi vendida em parcelas, na década de 1930, à Construtora Imobiliária Bangu, que a loteou para construção de residências.
A sede da fazenda, austera e simples, típica das casas senhoriais da sociedade rural brasileira do período colonial, é construída a meia encosta, com um porão alto aproveitando a diferença de nível. A fachada principal é marcada pelas colunas toscanas da varanda, por onde se dá o acesso. A capela de Nossa Senhora da Lapa fica à esquerda da casa e está ligada a ela pela varanda. Todo o conjunto arquitetônico é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “A casa de fazenda apresenta uma solução peculiar para a conjugação da capela ao corpo da casa, aproveitando a topografia do terreno. O coro da capela, que funcionava como tribuna para os proprietários, comunica-se diretamente com o alpendre da casa, enquanto a nave, que se desenvolve num plano inferior, tem acesso externo no nível do terreno”. (Guia da Arquitetura Colonial, Neoclássica e Romântica do Rio de Janeiro, de Jorge Czajkowski)
O conjunto arquitetônico, assim como a área verde em torno dele, foi declarado Parque Natural Municipal e, a partir de 2007, Parque Urbano Fazenda do Viegas, mas só no papel mesmo que ele funciona como parque. A única atividade realizada lá nos últimos anos tem sido a de Coletivos Culturais, que ocupam o espaço de vez em quando para um dia de eventos, com música, teatro, literatura, exposição, artesanato, cineclube etc.
André Luis Mansur é jornalista e escritor – Escreve semanalmente na página Santa Paciência.
Pesquisa de fotos- Guaraci Rosa