Cidade se despede de Ubirajara Félix do Nascimento, fundador do Cacique de Ramos e pai espiritual do Fundo de Quintal
O Rio de Janeiro amanheceu mais silencioso neste domingo, 15 de junho de 2025. A cidade que vibra com o batuque dos tambores e vive a intensidade da cultura popular está oficialmente de luto. Faleceu Ubirajara Félix do Nascimento, carinhosamente conhecido por todos como Bira Presidente, um dos maiores símbolos vivos do samba carioca. Em reconhecimento à sua trajetória incomparável, o prefeito Eduardo Paes decretou Luto Oficial de três dias em todo o município.
A publicação do decreto reconhece a grandeza de Bira não apenas como sambista, mas como embaixador universal da alegria, um diplomata cultural do Rio de Janeiro, cuja obra moldou a identidade musical da cidade e do país. Fundador do Cacique de Ramos e responsável direto pelo nascimento do lendário Grupo Fundo de Quintal, Bira transformou o samba em uma linguagem que rompeu fronteiras e tocou o coração de milhões de brasileiros.
🎶 Uma vida dedicada ao samba e ao povo
Mais do que um músico, Bira era um educador popular, um formador de gerações de sambistas, um homem que, ao longo de mais de 60 anos de dedicação à cultura de rua, ensinou, acolheu e guiou incontáveis talentos. O decreto destaca sua invenção sonora, ao introduzir instrumentos como o repique de mão, o tantam e o banjo no samba, criando uma sonoridade única que hoje é marca registrada do Fundo de Quintal e inspiração para toda a música popular brasileira.
Era no bloco, na roda de samba, na rua e nos ensaios que Bira Presidente ensinava. A alegria era seu idioma e o pandeiro, sua caneta. Fez história sem jamais se afastar do povo, e sua liderança natural o tornou uma figura respeitada entre artistas, políticos e foliões.
🌿 Pai espiritual de uma nação do samba
O decreto também reconhece a imensa influência de Bira na vida de ícones da música nacional, como Beth Carvalho, Leci Brandão, Jorge Aragão, Marquinhos de Oswaldo Cruz e Teresa Cristina, entre tantos outros. Bira não era apenas um parceiro, mas um pai cultural, um exemplo de generosidade e entrega ao samba.
Como disse certa vez Beth Carvalho, “o samba vai bem porque tem gente como o Bira cuidando dele”. Para muitos, ele era o elo entre o passado glorioso do samba e seu presente vibrante. Um mestre popular, no mesmo patamar de Pixinguinha, do qual brotou uma nova geração de talentos que carrega o legado da tradição com a ousadia da renovação.
🏳️ Mangueirense e flamenguista, símbolo do Rio
Carioca até a alma, Bira era torcedor apaixonado do Flamengo e mangueirense de coração. Não havia desfile, jogo ou evento popular em que seu sorriso largo e sua energia contagiante não estivessem presentes. O Cacique de Ramos, bloco que fundou e liderou, se transformou em ponto de encontro do samba brasileiro, abrindo as portas para novas vozes e novos ritmos, e inspirando iniciativas culturais por todo o Brasil.
Ao lado de seus companheiros do Fundo de Quintal — como Almir Guineto, Sereno, Neoci, Ubirany e Jorge Aragão —, ele levou o samba a um patamar de prestígio artístico nunca antes alcançado. E, mesmo com todo o reconhecimento, nunca se afastou das raízes humildes do subúrbio carioca, onde o samba nasceu e continua pulsando.
🖤 Uma perda irreparável, um legado eterno
A morte de Bira Presidente representa uma perda irreparável para o samba, para a cidade do Rio de Janeiro e para a cultura brasileira. Mas, como lembra o decreto oficial, sua obra permanecerá viva, ecoando em cada roda de samba, em cada ensaio de bloco, em cada batuque improvisado em uma laje, viela ou terreiro.
O decreto, publicado neste domingo, declara:
Art. 1º Fica declarado Luto Oficial, de três dias, na Cidade do Rio de Janeiro, pelo falecimento de Ubirajara Félix do Nascimento – Bira Presidente.
Art. 2º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Rio de Janeiro, 15 de junho de 2025; 461º ano da fundação da Cidade.
EDUARDO PAES
🌟 Um nome escrito na história do Rio
O nome de Bira Presidente está agora inscrito para sempre no panteão da cultura carioca. Sua partida física representa o fim de uma era, mas seu legado continua aceso, inspirando músicos, poetas, foliões e apaixonados por samba em todo o Brasil.
O Cacique de Ramos certamente o homenageará com batuques e lágrimas. As quadras, as rodas de samba e os palcos do país o reverenciarão como ele merece: em festa, em canto e com profunda gratidão.
Porque como todo grande sambista, Bira não morre — ele se transforma em batida de tambor, em canto de alegria, em resistência popular.
Viva Bira Presidente! Viva o Samba! Viva o Rio de Janeiro!