Em uma reviravolta surpreendente nas investigações de 2010, a Polícia descobriu que o notório líder do Comando Vermelho, conhecido nas ruas como Batgol ou Matemático, estava empregando uma tática incomum para fortalecer seu domínio nas comunidades locais. Ao invés de recorrer apenas à força ou ao medo, Batgol optou por um método mais sutil de influência: a saúde bucal.
De acordo com os relatos, o criminoso havia estabelecido um plano para pagar mensalmente um dentista, garantindo que tanto seus subordinados quanto moradores da região recebessem tratamento dentário gratuito. Este arranjo não era apenas uma questão de estética, como sugerido por Batgol, que enfatizava a importância de não ter “um aspecto feio, como não ter todos os dentes da boca.” Ele via nesse cuidado uma maneira de elevar o moral de seus comparsas e, simultaneamente, de angariar a simpatia e o apoio dos moradores locais.
O dentista, cujo nome não foi divulgado pelas autoridades, teria recebido R$ 8 mil adiantados para começar os tratamentos no dia 4 de junho de 2010. Esse pagamento inicial não só sinaliza a seriedade do compromisso de Batgol com esse plano, mas também sublinha a estratégia bem calculada por trás da oferta. Afinal, quem poderia suspeitar que um serviço tão benéfico pudesse ter intenções subliminares?
A Polícia Militar, entretanto, interpretou essa ação como uma manobra astuta. “É uma medida assistencialista para tentar ganhar a simpatia do cidadão de bem”, afirmou um policial envolvido nas investigações. Essa perspectiva foi ecoada por especialistas em segurança pública, que frequentemente apontam para a complexidade das relações entre criminosos e as comunidades em que operam. Muitas vezes, líderes criminosos empregam táticas que visam criar uma imagem de benevolência, mascarando a violência e coerção que sustentam seu verdadeiro poder.
Este caso levanta questões importantes sobre a dinâmica de poder nas áreas dominadas pelo tráfico. Ao oferecer serviços como tratamentos dentários, líderes como Batgol não apenas melhoram as condições de vida de indivíduos marginalizados; eles também fomentam uma dependência da comunidade em relação ao tráfico para serviços e benefícios que o estado muitas vezes é incapaz de prover de maneira adequada ou consistente.
O fenômeno não é exclusivo do Brasil. Em diversas partes do mundo, organizações criminosas têm investido em “políticas de boa vizinhança”, que podem incluir desde a distribuição de alimentos e medicamentos até a realização de festas comunitárias e reparos em infraestrutura local. Essas atividades, embora possam parecer altruístas, são geralmente calculadas para construir uma base de apoio entre as populações locais, tornando as comunidades menos inclinadas a cooperar com as autoridades.
À medida que os detalhes desse esquema de saúde bucal vêm à luz, a polícia continua a desvendar as muitas camadas da estratégia de Batgol. Enquanto alguns podem ver um dentista e tratamentos dentários como elementos menores no vasto cenário do crime organizado, eles servem como um lembrete da complexidade e da sofisticação das operações criminosas modernas. A batalha por corações e mentes, parece, pode ser tanto uma questão de saúde pública quanto de segurança pública.