Um cenário de terror foi descoberto nesta segunda-feira (14), na região da Praça Seca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Agentes da Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), com apoio do setor de inteligência da Polícia Civil, localizaram um cemitério clandestino dentro da comunidade da Chacrinha — uma das áreas mais conflagradas da cidade. O local, escondido em uma área de mata fechada, continha diversas ossadas humanas, evidenciando uma verdadeira zona de extermínio comandada pelo crime organizado.
As investigações revelam que o espaço era utilizado por criminosos do Comando Vermelho (CV), facção que assumiu o controle da Chacrinha em 2024, após intensos confrontos com grupos milicianos. Desde então, segundo os investigadores, pessoas ligadas ou suspeitas de ter vínculos com milicianos vinham sendo executadas e enterradas ali. “É um padrão já observado em outras comunidades dominadas por facções. Assim que o território muda de mãos, uma ‘limpeza’ começa a ser feita”, revelou um policial da DDPA, sob anonimato.
A descoberta foi possível graças a denúncias anônimas e ao cruzamento de informações de inteligência. A perícia já iniciou os trabalhos de identificação dos restos mortais, mas o processo deve ser demorado. “A quantidade de ossadas indica que essas mortes aconteceram há meses. Algumas vítimas podem estar desaparecidas desde 2024”, explicou um perito do Instituto Médico Legal (IML).
Moradores da região afirmam que há tempos escutavam gritos e tiros durante a madrugada, mas, por medo de represálias, evitavam denunciar. “A gente sabe o que acontece, mas ninguém fala nada. Quem fala, desaparece também”, disse um morador, que pediu para não ser identificado.
A Polícia Civil agora trabalha com a possibilidade de que outras áreas da comunidade também escondam valas clandestinas. “É possível que existam mais pontos como esse. Vamos continuar as buscas com ajuda de cães farejadores e imagens aéreas”, afirmou o delegado responsável pelo caso.
O Ministério Público foi acionado e deve acompanhar as investigações. Também há expectativa de que a Polícia Federal entre no caso, já que as execuções podem configurar crime de extermínio e formação de milícia armada.
A tragédia evidencia a urgência de retomar o controle do Estado sobre territórios dominados por facções e milícias. Enquanto isso não acontece, moradores da Praça Seca e adjacências seguem vivendo sob o medo e o silêncio, cercados pela violência invisível que marca boa parte da Zona Oeste carioca.
