A violência do crime organizado voltou a chocar a cidade de Eunápolis, no sul da Bahia, nesta terça-feira (2). Em meio a uma intensa disputa territorial entre facções rivais, moradores do bairro Santa Lúcia encontraram uma cena aterrorizante: a cabeça de uma jovem foi deixada em plena via pública, acompanhada de um bilhete com ameaças.
A vítima foi identificada como Eduarda Rodrigues dos Santos, de 22 anos, conhecida na região como Eduarda Santos. Segundo informações preliminares, a jovem teria sido sequestrada junto com outras duas mulheres, cujos paradeiros seguem desconhecidos até o momento.
Contexto da guerra
Nos últimos meses, Eunápolis tem vivido uma escalada de violência em decorrência da guerra entre o Comando Vermelho (CV) e o Bonde do Maluco (BDM). As duas facções disputam o controle do tráfico de drogas na região, e a cada semana surgem novos relatos de confrontos, execuções e intimidações contra moradores.
Na madrugada que antecedeu a execução de Eduarda, dois homens foram mortos a tiros também no bairro Santa Lúcia. De acordo com a polícia, as duas mulheres sequestradas junto com Eduarda seriam companheiras das vítimas desse confronto. A suspeita é que elas tenham sido levadas por traficantes do CV para serem julgadas em um “tribunal do crime”, prática comum em organizações criminosas para punir supostos traidores ou pessoas ligadas a grupos rivais.
O bilhete deixado pelos criminosos
Ao lado da cabeça da jovem, os criminosos deixaram uma carta escrita à mão, atribuída à própria vítima. O texto, que mistura ameaças e confissões forçadas, dizia:
“Eu, Duda, fui pra uma laranjada de abraçar ideia dos alemão e contra o CV. Por isso eu digo pra todos pra não fazer o que eu fiz, porque o destino é triste. O Comando não aceita traição. Quem fizer vai pagar com a vida.
Essa ideia é pra todos, até pros moradores que apoiam alemão. Quem alugar casa pra eles vai perder suas casas e ser expulso das nossas áreas.”
A mensagem, segundo investigadores, tinha como objetivo não apenas justificar a execução, mas também intimidar moradores que, de alguma forma, possam colaborar com o BDM. A brutalidade da ação expõe o clima de terror que assola a comunidade.
Desaparecidas
Enquanto a polícia trabalha para identificar os autores do crime, cresce a preocupação em torno das duas mulheres sequestradas junto com Eduarda. Testemunhas afirmaram que elas foram levadas à força por homens fortemente armados na noite anterior. Até agora, não houve qualquer sinal de vida ou pedido de resgate, o que aumenta os temores de que possam ter sofrido o mesmo destino trágico.
Ação da polícia
A Polícia Civil instaurou inquérito para investigar o caso e tenta localizar as duas desaparecidas. Equipes da Polícia Militar intensificaram o patrulhamento na região, mas moradores afirmam que a presença policial é insuficiente diante da ousadia dos criminosos. “A gente vive com medo. Eles mandam e desmandam. A polícia só aparece depois da tragédia”, relatou uma moradora que pediu para não ser identificada.
As autoridades acreditam que o crime foi uma execução planejada, com o claro objetivo de passar uma mensagem de força da facção responsável. “É uma forma de demonstração de poder. Eles querem deixar claro que não aceitam desafetos e que qualquer aproximação com o grupo rival será punida de forma exemplar”, declarou um investigador.
Clima de medo
O bairro Santa Lúcia, palco dos recentes confrontos, vive uma rotina de tensão. Comércios fecham mais cedo, moradores evitam sair à noite e famílias relatam que já cogitam se mudar da região para fugir da violência. O medo de represálias também dificulta a colaboração com as autoridades, já que denunciar traficantes pode custar a vida.
Conclusão
A morte brutal de Eduarda Santos é mais um capítulo sangrento da disputa entre facções criminosas que, há anos, espalham terror em Eunápolis e em outras cidades da Bahia. O desaparecimento das outras duas mulheres mantém a população em estado de alerta, enquanto a polícia busca respostas.
O caso evidencia a fragilidade do poder público diante da força das facções e o impacto devastador do crime organizado sobre comunidades inteiras, que seguem vivendo sob a lei do medo.