Do alto, é possível observar o verdadeiro tamanho do problema: quilômetros de sujeira se espalham nas águas da Baía de Guanabara e das lagoas da Barra e de Jacarepaguá. A situação preocupante, no entanto, não é novidade — é mais antiga que o projeto Olho Verde, criado há cerca de 20 anos pelo biólogo Mario Moscatelli, justamente para monitorar o índice de degradação desses locais. Ontem, o pesquisador fez um novo sobrevoo para atualizar as informações da poluição nas regiões e, mais uma vez, registrou uma extensa faixa de esgoto no litoral. Um problema que parece não ter fim.
— A única felicidade foi ver que não tinha despejo de esgoto na altura da Marina da Glória. Em contrapartida, da Praia de Botafogo ao Rio de São João de Meriti, é esgoto de ponta a ponta. Essa situação é permanente — lamentou Moscatelli.
INSPEÇÃO A CADA TRÊS MESES
O sobrevoo acontece a cada três meses. Além de servir para atualizar o cenário nas águas que cortam o município, o de ontem teve mais um objetivo: colher informações para recorrer de uma decisão do Ministério Público Federal (MPF), que promoveu o arquivamento de uma representação movida por Moscatelli, no ano passado, denunciando o descaso do estado. O indeferimento foi feito no dia 15 deste mês, e o denunciante tem até dez dias para apresentar novas provas. Na decisão, o MPF afirma que recebeu alegações dos órgãos ambientais.
O biólogo pretende ainda apresentar a situação caótica da Baía e das lagoas aos candidatos a governador do Rio e saber deles quais são suas propostas para o tema. O sobrevoo de ontem foi ainda um convite aos políticos para um passeio aéreo em 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente.
— Queremos saber deles qual é a política para os próximos anos, porque estamos rumando ao abismo. Os candidatos precisam ver de perto o problema — disse Moscatelli, lembrando que grandes eventos já foram realizados no Rio: — A cidade recebeu Copa do Mundo, Olimpíada, Jogos Pan-Americanos, investiu bilhões. É inacreditável que, depois de tantas promessas e investimentos, as condições só fazem piorar. A parte de saneamento do município foi esquecida.
Procurado para comentar o assunto, o Instituto Estadual do Ambiente não havia retornado contato até o fechamento desta edição.
