Uma nova ameaça paira sobre a Zona Oeste do Rio de Janeiro. De acordo com um relatório recente da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), o Comando Vermelho (CV) estaria planejando uma ousada estratégia para cercar o Complexo Penitenciário de Gericinó. O conglomerado, composto por 22 unidades prisionais, abriga alguns dos principais líderes da facção criminosa, tornando-se um ponto estratégico para as operações do grupo.
O Plano de Domínio Territorial
O relatório aponta que o objetivo do CV é tomar o controle dos bairros próximos ao complexo, formando um cinturão que favoreça atividades ilícitas e possibilite ações coordenadas para sustentar sua hegemonia. Essa expansão territorial não é apenas simbólica, mas estratégica. Ao dominar áreas adjacentes, a facção pode intensificar práticas como o arremesso de drogas, celulares e outros objetos para dentro das prisões, utilizando métodos cada vez mais sofisticados e arriscados.
Além disso, a proximidade controlada pode ser usada para planejar e executar fugas em massa, um temor constante das autoridades penitenciárias. “Esse cerco coloca em risco não só a segurança das prisões, mas também a dos moradores dessas comunidades, que acabam vivendo sob a influência direta da facção”, declarou um oficial que preferiu não ser identificado.
Gericinó: Um Polo de Tensão
O Complexo de Gericinó, localizado em Bangu, é considerado um dos maiores conglomerados prisionais do Brasil. As 22 unidades que o compõem são um reflexo do desafio da superlotação carcerária, com capacidade constantemente excedida e infraestrutura deficitária. Essa vulnerabilidade estrutural acaba sendo explorada pelas facções criminosas, que enxergam no sistema penitenciário uma extensão de suas operações externas.
Nos últimos anos, as unidades do complexo foram palco de apreensões de drones, equipamentos usados para transportar ilícitos, além de tentativas frustradas de fuga. Ainda assim, a Seap aponta que a ameaça atual vai além dos muros: é a consolidação de um ambiente externo totalmente dominado pelo crime organizado.
Os Bairros Sob Pressão
Os bairros que circundam Gericinó enfrentam desafios crescentes. As comunidades locais se tornaram territórios disputados, com aumento no índice de violência e relatos de moradores que vivem sob o domínio de traficantes. Essa pressão reflete diretamente na qualidade de vida da população, que se vê no meio de um conflito invisível, mas devastador.
Além disso, o controle desses territórios permite ao CV recrutar novos membros, criar rotas seguras para o tráfico de drogas e consolidar uma rede de apoio logístico que facilita operações dentro e fora das prisões.
Resposta das Autoridades
Diante desse cenário, a Seap e as forças de segurança pública intensificaram o monitoramento ao redor do complexo. Medidas como reforço no policiamento, instalação de câmeras de vigilância e operações conjuntas com a Polícia Militar têm sido adotadas para conter o avanço territorial da facção.
Um especialista em segurança pública ouvido pela reportagem destacou a complexidade do problema: “É preciso enxergar o sistema penitenciário como parte integral do enfrentamento ao crime organizado. Não adianta apenas prender, é necessário criar barreiras que impeçam o comando remoto das ações externas.”
O Impacto para a Sociedade
O cerco do Comando Vermelho ao Complexo de Gericinó expõe uma falha sistêmica que transcende os muros da prisão. Para especialistas, o domínio territorial em torno das unidades penitenciárias é um reflexo direto da falta de políticas públicas eficientes, tanto no campo da segurança quanto na inclusão social.
Moradores das áreas afetadas relatam o medo constante e a ausência do Estado em questões básicas, como saúde, educação e lazer. “Parece que fomos esquecidos. O tráfico manda mais aqui do que qualquer autoridade”, desabafou um morador de uma comunidade próxima.
Um Futuro Incerto
Enquanto as autoridades trabalham para conter essa expansão, a realidade é que o crime organizado continua a se reinventar. O cerco ao Complexo de Gericinó não é apenas uma questão de segurança pública, mas também de soberania estatal em regiões onde o poder paralelo avança.
O que está em jogo vai além da contenção do tráfico ou da proteção de unidades prisionais. É a própria segurança da população da Zona Oeste que está sob ameaça. Em um cenário onde o crime organiza-se cada vez mais, o desafio para o poder público é reagir à altura, com estratégias que vão além do enfrentamento armado, atacando as raízes sociais e econômicas que permitem a perpetuação desse ciclo de violência.