Em depoimento prestado ao Supremo Tribunal Federal (STF) em 10 de junho de 2025, o ex-presidente Jair Bolsonaro fez uma declaração que chamou atenção e gerou reações nas redes sociais e na imprensa: “Se não fosse a campanha de Pix, que eu não fiz, eu não sei como estaria sobrevivendo hoje em dia”. A fala ocorreu no contexto da investigação sobre supostos financiamentos irregulares e uso de doações para despesas pessoais e de familiares.
Segundo o próprio Bolsonaro, a arrecadação via transferências Pix entre 2023 e 2025 teria alcançado entre R$ 17 e 18 milhões. O ex-presidente usou um tom de gratidão, ressaltando que a quantia arrecadada superou a de campanhas solidárias como o “Criança Esperança”. Disse ainda que esse dinheiro serviu não apenas para sua sobrevivência, mas também para ajudar seu filho Eduardo Bolsonaro, que atualmente vive nos Estados Unidos.
O Contraste com a Realidade: Benefícios e Altos Rendimentos
A declaração de “sobrevivência” contrasta fortemente com os benefícios legais e a renda mensal que Bolsonaro recebe como ex-presidente, militar da reserva, ex-deputado federal e dirigente partidário.
De acordo com a Lei nº 7.474/1986, complementada por um decreto de 2008, todo ex-presidente da República tem direito a um pacote generoso de benefícios pagos com dinheiro público. A lista inclui:
- Dois carros oficiais com motoristas pagos pelo Estado;
- Passagens e diárias para viagens nacionais e internacionais;
- Despesas com combustíveis, manutenção dos veículos e telefonia;
- Uma equipe fixa composta por oito servidores: dois motoristas, dois assessores e quatro responsáveis por segurança e apoio pessoal.
Esses benefícios, somados, representam um custo considerável aos cofres públicos e garantem ao ex-presidente uma estrutura que vai muito além da “sobrevivência”.
Renda Mensal: Mais de R$ 100 Mil Garantidos
Além dos privilégios assegurados por lei, Bolsonaro recebe uma quantia mensal expressiva. A renda total dele é composta por três fontes principais:
- Aposentadoria como deputado federal: cerca de R$ 46 mil mensais, conforme registros da Câmara e reportagens recentes de veículos como O Globo.
- Aposentadoria militar (como capitão da reserva do Exército): aproximadamente R$ 11 a 12 mil mensais, segundo apurações do UOL.
- Salário como presidente de honra do PL (Partido Liberal): entre R$ 41 mil e R$ 46 mil por mês, dependendo da estimativa.
Com isso, o rendimento mensal de Bolsonaro gira em torno de R$ 99 mil a R$ 104 mil, sem contar doações, lucros eventuais ou benefícios indiretos.
Ou seja, dizer que ele vive com mais de R$ 100 mil por mês é não apenas verdadeiro como confirmado por múltiplas fontes confiáveis da imprensa, como UOL, Poder360, O Globo e CNN.
A Narrativa do Sofrimento: Estratégia ou Contradição?
A frase de Bolsonaro sobre “não saber como estaria sobrevivendo” pode parecer um desabafo. No entanto, considerando os dados objetivos, ela soa como uma narrativa contraditória. Com uma estrutura robusta garantida por lei, apoio financeiro constante de seus seguidores e uma renda acima de seis dígitos mensais, é difícil encaixar a palavra “sofrimento” em seu cenário de vida atual.
Ainda mais contrastante é o uso de comparações com campanhas como o “Criança Esperança”, que visa ajudar crianças em situação de vulnerabilidade em todo o Brasil. Enquanto essa iniciativa depende da solidariedade popular para beneficiar coletivamente milhares, a “vaquinha do Pix” foi mobilizada para custear despesas de uma única figura pública que já dispõe de privilégios garantidos pelo Estado e pela política.
O Que Dizem os Fatos?
A verificação cruzada das informações mostra que as principais alegações — tanto sobre as arrecadações via Pix quanto sobre seus rendimentos e benefícios — são verdadeiras:
Informação | Situação Confirmada |
---|---|
Arrecadação via Pix entre R$ 17 e 18 milhões | ✅ Confirmado por Bolsonaro em depoimento ao STF |
Benefícios legais como ex-presidente | ✅ Previsto por lei desde 1986 |
Renda mensal de aproximadamente R$ 100 mil | ✅ Confirmada por reportagens do O Globo, UOL e CNN |
Conclusão
A declaração de Jair Bolsonaro ao STF sobre sua dependência das doações via Pix levanta questionamentos importantes sobre discurso político, percepção pública e responsabilidade com o uso de recursos. Embora ele tenha todo o direito legal de receber aposentadorias e exercer cargos partidários remunerados, é legítimo questionar a narrativa de que estaria em uma situação de “sobrevivência” frente a uma realidade financeira tão privilegiada.
Com quase R$ 18 milhões arrecadados por doações voluntárias, mais de R$ 100 mil por mês em rendimentos fixos e uma estrutura bancada pelo Estado, a imagem de alguém em situação vulnerável parece mais retórica do que realidade. O contraste entre o discurso e os fatos concretos é claro — e cabe à sociedade julgar a coerência dessa postura.
Se desejar, posso complementar esta matéria com comparações entre benefícios concedidos a outros ex-presidentes ou trazer uma análise sobre o uso de campanhas de arrecadação na política brasileira.