O traficante Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, preso na Favela do Arará, em Benfica, na Zona Norte do Rio, durante uma operação da Forças Armadas nesta quatta-feira. Ele foi pivô da guerra na Rocinha, iniciada dia 17 de setembro, quando moradores da comunidade testemunharam o confronto entre traficantes. Cerca de 60 bandidos ligados a Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem — que está preso num presídio federal em Porto Velho — invadiram a comunidade para expulsá-lo.
A invasão foi ordenada pela cúpula da Amigos dos Amigos (ADA), após Rogério ter se recusado a obedecer a uma determinação de Nem: ele deveria entregar o controle da favela. Isolado na facção, o traficante agora busca novos aliados para recuperar o território perdido. No áudio, ele cita o presídio onde cumprem pena bandidos de uma facção rival, o Terceiro Comando Puro (TCP): “Bagulho agora é Bangu 6”.
“O Nem não é mais dono de nada não, não é nosso patrão, não é nosso amigo. Ele mandou dar tiro na gente”. Num áudio investigado pela polícia, Rogério 157 deixa bem claro para seu bando que rompeu de vez com seu antigo chefe: Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, que cumpre pena num presídio federal em Rondônia. Segundo a polícia, o áudio foi feito após a invasão da favela, no domingo, que culminou na expulsão de Rogério. O bandido, que estaria escondido na mata atrás da Rocinha, teria mandado o recado à quadrilha.
Rogério entrou no crime pelas mãos de seu atual desafeto: ele era o segurança pessoal de Nem. O bandido fez parte do grupo de traficantes que invadiu o Hotel Intercontinental, em São Conrado, em agosto de 2010. Na ocasião, o bando voltava de um baile funk no Morro de São Carlos, no Estácio, quando se deparou com a polícia. Nem conseguiu fugir. Rogério foi preso.
Também fazia parte do grupo outro pivô da atual disputa pela Rocinha: Ítalo Jesus Campos, o Perninha, braço-direito de Nem. Ítalo foi encontrado morto no porta-malas de um carro no dia 13 de agosto. A investigação da Delegacia de Homicídios concluiu que Rogério foi o mandante da morte: ele temia que Perninha tomasse a favela a mando de Nem. No último dia 28, a Justiça decretou a prisão temporária do traficante pelo crime. Ele está foragido, e o Disque-Denúncia oferece R$ 30 mil por informações que levem à sua captura.
Desde que assumiu o controle da favela, em 2013, Rogério ignora a existência da UPP no local. Sua quadrilha, inclusive, criou uma solução ousada para monitorar a movimentação dos policiais: instalou câmeras dentro de caixas de plástico pretas em diversos locais da Rocinha e do Vidigal. No último dia 24 de maio, sete dessas câmeras foram apreendidas por policiais — uma na Rocinha e outras seis no Vidigal, perto da base da UPP. Um inquérito foi aberto na 11ª DP (Rocinha) para investigar o caso.
Diante da falta de ação da polícia, o bando passou a contar com outras fontes de lucro na favela. Além da venda de drogas — que proporciona à quadrilha o maior faturamento da cidade, segundo a Polícia Civil —, Rogério também decidiu explorar os moradores da favela: passou a cobrar pedágio pela venda de gás.
Informações que chegaram ao Ministério Público dão conta de que, em oututbro — período que coincide com o assassinato de Perninha —, o preço do gás passou de R$ 70 a R$ 100 na parte alta da favela. Aos moradores, bandidos ligados a Rogério punham a culpa do aumento em Nem: parentes do bandido estariam pedindo mais dinheiro a Rogério. Agentes que investigam a Rocinha acreditam que o bandido usou o caso para trazer os moradores para seu lado na disputa.