Para marcar o Dia da Consciência Negra, celebrado em todo o país hoje, o Centro de Convivência Negra (CCN) e a Diretoria da Diversidade (DIV) realizam uma série de atividades que visam promover a visibilidade das discussőes sobre a negritude na Universidade de Brasília (UnB). Outras iniciativas, que integram o Novembro Negro, văo até o dia 29.
Hoje, as açőes concentram-se no Teatro de Arena, entre 12h e 16h. Às 19h, a Biblioteca Central realiza o coquetel de abertura da I Mostra de Arte de Estudantes e Professores Negros da UnB. A mostra busca acabar com estereótipos carregados de problemáticas sociais, por meio de pinturas, figuras, entre outros, segundo os organizadores.
Estudante de biologia da UnB, Davi Evangelista Dias, 22 anos, diz que a violência contra os negros é cotidiana e se apresenta de várias formas. Ele conta ter sofrido preconceito em comércios e na rua. “Uma vez, voltava da escola com amigos, que também săo negros, e fomos abordados agressivamente por agentes da Polícia Militar. Năo estávamos fazendo nada, apenas indo jogar bola”, conta.
Lucas Souza, 20, estudante de serviço social, também foi vítima de preconceito racial. Um segurança de pele branca o ameaçou em uma festa, sem qualquer motivo. “Ele chegou perto, falando para eu ter cuidado, porque ele sabia o meu nome, mas eu năo estava fazendo nada de mais. Estava apenas com amigos me divertindo. O que mais doeu năo foi ele chamar a minha atençăo, foi ele ter feito isso com desrespeito, só por eu ser negro.”
Amigo de Lucas, outro estudante da UnB, que se apresenta como Titia Maldita, conta que, quando criança, percebia “olhares diferentes” dos outros colegas e que eles o excluíam das brincadeiras, principalmente na escola. “Eu era a única criança negra da sala. Eles me tratavam diferente e também năo gostavam de brincar comigo. Apesar de ter crescido, ainda sinto que isso năo mudou”, ressalta.
Apartheid
Estudante de letras, Tauanăra Monteiro, 24, acredita que, em alguns lugares do país, as desigualdades entre negros e brancos săo mais nítidas. “Os mesmos problemas que têm aqui tem em outros lugares, mas, em alguns, é muito mais visível. Lá no Rio, por exemplo, é explícito onde estăo os brancos e onde estăo os negros. E os pretos estăo basicamente nos lugares mais pobres. Aqui, já sinto mais misturado”, observa.
Subsecretário de Igualdade Racial do Distrito Federal, Victor Nunes diz faltar políticas de Estado para evitar o racismo e outras violências contra a populaçăo negra. “O Estado năo promove políticas para reparar tudo o que foi feito contra essa comunidade, que sai mais cedo de casa para conseguir emprego. O jovem negro termina indo para o sistema carcerário, onde 85% dos presos săo negros; ou vai para o cemitério”, afirma Nunes.