A guerra silenciosa dentro da milícia que atua na Zona Oeste do Rio fez mais uma vítima na noite desta quarta-feira (15). O miliciano conhecido como Braga, apontado como chefe da comunidade do Piraquê, em Pedra de Guaratiba, foi executado e teve seu corpo carbonizado em uma ação que chocou moradores da região.
Segundo informações apuradas com exclusividade, Braga teria sido alvo de uma “cobrança interna” – uma espécie de julgamento promovido pelos próprios membros da organização criminosa que controla diversas comunidades da Zona Oeste. O motivo da execução ainda não foi oficialmente divulgado, mas fontes ligadas à segurança pública acreditam que se trata de uma disputa de poder e controle de áreas.
O corpo de Braga foi encontrado dentro de um carro incendiado, abandonado em frente à comunidade Cesar Maia, em Vargem Pequena, também na Zona Oeste. A cena chamou a atenção de moradores que, assustados com as chamas e a movimentação atípica, acionaram as autoridades. O cadáver estava totalmente carbonizado, e somente após horas de investigação foi possível confirmar a identidade da vítima.
Braga havia assumido o comando do Piraquê após a queda de outro miliciano conhecido como Borracheiro, que também foi executado após um processo semelhante de cobrança interna. Os dois casos demonstram o grau de tensão e instabilidade dentro das milícias que atuam na região, cada vez mais envolvidas em conflitos internos.
Moradores da comunidade relataram que, nos últimos dias, o clima era de tensão. “A gente sabia que algo grande ia acontecer. Tava muito estranho, sem movimento e com muita gente sumida”, contou um morador sob condição de anonimato. A prática de eliminar antigos aliados ou líderes que caem em desconfiança tem se tornado frequente dentro dessas organizações, que operam com códigos próprios de conduta e punição.
A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) está investigando o caso, e a principal linha de apuração é de execução ordenada por lideranças superiores da milícia, que têm ramificações em diversas comunidades da Zona Oeste.
Especialistas em segurança pública alertam para o crescimento do poder paralelo nessas regiões e a dificuldade de desarticular essas estruturas, que já atuam como verdadeiros “estados dentro do Estado”, impondo regras, cobrando taxas e decidindo quem vive ou morre.
Enquanto a guerra pelo controle territorial continua, a população permanece refém do medo e do silêncio. “Aqui ninguém fala, ninguém viu. A gente só reza pra não ser o próximo”, desabafa outro morador.
O caso de Braga acende um novo alerta para o avanço das milícias e os conflitos internos que tornam ainda mais imprevisível o cenário da violência urbana no Rio de Janeiro