Rio de Janeiro — Uma investigação da Polícia Civil revelou um escândalo envolvendo um ex-policial do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) que chocou até os agentes mais experientes. Rony Pessanha, que já integrou uma das unidades mais temidas e respeitadas da polícia fluminense, foi identificado como instrutor de chefes do Comando Vermelho, uma das maiores facções criminosas do país.
De acordo com os investigadores, Pessanha oferecia treinamentos especializados a criminosos de alta periculosidade e cobrava R$ 1.500 por hora. Os serviços incluíam técnicas táticas, defesa pessoal e simulações de combate, algo que deveria estar restrito ao uso policial. As provas colhidas mostram que os treinos eram detalhadamente explicados em mensagens e áudios recuperados durante a investigação.
Dois dos “alunos” mais frequentes de Pessanha eram traficantes de grande notoriedade: Corolla, preso em 2023 durante uma megaoperação policial, e Paulista, apontado como o “matuto” do Comando Vermelho — termo usado para descrever criminosos com conhecimento operacional e estratégico do tráfico, especialmente em áreas de mata e comunidades fortemente armadas.
“É assustador ver um ex-policial com treinamento de elite colocar suas habilidades a serviço do crime. Ele oferecia um tipo de capacitação que dava vantagem tática aos criminosos em confrontos com as forças de segurança”, declarou um dos agentes que participa da investigação.
Mas os crimes de Rony Pessanha não paravam por aí. Ele também utilizava sua empresa de segurança para alugar veículos de luxo para os traficantes. Um dos contratos mais impressionantes foi o aluguel de uma McLaren avaliada em R$ 2 milhões, que foi usada por Paulista durante um mês. O valor da locação? R$ 460 mil.
A investigação aponta que a empresa de Pessanha funcionava como uma fachada legal para movimentar dinheiro do tráfico, com contratos de locação de veículos de alto padrão que, na prática, eram bancados com recursos ilícitos. Ainda segundo a polícia, outros carros de luxo, como BMWs, Land Rovers e até blindados executivos, também estavam sendo oferecidos a integrantes da facção.
A Polícia Civil agora investiga possíveis cúmplices e o envolvimento de outros agentes de segurança, além de buscar identificar para onde foi o dinheiro arrecadado. O caso levanta uma série de questionamentos sobre a fiscalização de ex-agentes que, após saírem das corporações, seguem atuando no setor privado, muitas vezes sem qualquer tipo de controle ou vigilância.
Rony Pessanha ainda não foi preso, mas é considerado foragido. Mandados de busca e apreensão foram cumpridos em endereços ligados a ele no Rio de Janeiro e na Baixada Fluminense.
A Secretaria de Segurança Pública reforçou que casos como este são tratados com máxima prioridade e que não há espaço para conivência com o crime dentro ou fora das corporações.
O caso segue sob investigação.